O CNE publicou o Estado da Educação 2024, o habitual retrato do nosso sistema educativo. Sem surpresa, continua a verificar-se uma associação forte entre insucesso ou baixo desempenho escolar e contexto familiar social e económico.
Lamentavelmente, nada de novo.
Também não é novo "aceitar" que a explicação
destes resultados reside no destino, será uma fatalidade. A verdade é que a pobreza tem claramente
uma dimensão estrutural e intergeracional.
A escola é certamente uma
ferramenta poderosa de promoção de mobilidade social, mas, por si só,
dificilmente funciona como elevador social.
O impacto das circunstâncias de
vida no bem-estar das crianças, em particular no rendimento escolar e
comportamento, é por demais conhecido e essas circunstâncias constituem, aliás,
um dos mais potentes preditores de insucesso e abandono quando são particularmente
negativas, como é o caso de carências significativas ao nível das necessidades
básicas. Em qualquer parte do mundo, miúdos com fome, com carências, de
natureza variada não aprendem e mais provavelmente vão continuar pobres.
Manteremos as estatísticas internacionais referentes a assimetrias e
incapacidade de proporcionar mobilidade social através da educação. Não
estranhamos. Dói, mas é “normal”, será o destino.
Assim, ou nos concertamos na
exigência a alterações nos modelos de desenvolvimento de modo a garantir, tanto
quanto possível, equidade e um combate eficaz à exclusão com a consequente
alteração nas políticas públicas ou, ciclicamente, nos confrontamos com
indicadores desta natureza.
Não, não é "o destino"
que os filhos dos filhos dos filhos, dos filhos das famílias pobres tenham insucesso e continuem
pobres. Se assim acontece e continua a acontecer é a falência das políticas
públicas e dos que por elas são responsáveis.
Acontece ainda que se verifica uma
estranha e curiosa situação, muitos ocupantes de funções políticas relevantes,
na área da educação por exemplo, após terminarem essas funções apresentam
sempre uma visão muito clara do que deve ser a política na área de que foram
responsáveis, mas que, por incompetência, falta de poder, visão diferente ou
qualquer outra justificação, não realizaram. É o que eu chamo a Síndrome
Pós-ministério, ou seja, é assim que se deve fazer, mas na altura, não me
lembrei, não soube, não fui capaz ou ...
Nos tempos que vivemos, duros e
incertos, mais se torna necessário a robustez e competência das políticas
públicas. Quero acreditar que é possível fazer diferente, será, como sempre uma
questão de opções.
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