quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

NÃO É O DESTINO

 O CNE publicou o Estado da Educação 2024, o habitual retrato do nosso sistema educativo. Sem surpresa, continua a verificar-se uma associação forte entre insucesso ou baixo desempenho escolar e contexto familiar social e económico.

Lamentavelmente, nada de novo.

Também não é novo "aceitar" que a explicação destes resultados reside no destino, será uma fatalidade. A verdade é que a pobreza tem claramente uma dimensão estrutural e intergeracional.

A escola é certamente uma ferramenta poderosa de promoção de mobilidade social, mas, por si só, dificilmente funciona como elevador social.

O impacto das circunstâncias de vida no bem-estar das crianças, em particular no rendimento escolar e comportamento, é por demais conhecido e essas circunstâncias constituem, aliás, um dos mais potentes preditores de insucesso e abandono quando são particularmente negativas, como é o caso de carências significativas ao nível das necessidades básicas. Em qualquer parte do mundo, miúdos com fome, com carências, de natureza variada não aprendem e mais provavelmente vão continuar pobres. Manteremos as estatísticas internacionais referentes a assimetrias e incapacidade de proporcionar mobilidade social através da educação. Não estranhamos. Dói, mas é “normal”, será o destino.

Assim, ou nos concertamos na exigência a alterações nos modelos de desenvolvimento de modo a garantir, tanto quanto possível, equidade e um combate eficaz à exclusão com a consequente alteração nas políticas públicas ou, ciclicamente, nos confrontamos com indicadores desta natureza.

Não, não é "o destino" que os filhos dos filhos dos filhos, dos filhos das famílias pobres tenham insucesso e continuem pobres. Se assim acontece e continua a acontecer é a falência das políticas públicas e dos que por elas são responsáveis.

Acontece ainda que se verifica uma estranha e curiosa situação, muitos ocupantes de funções políticas relevantes, na área da educação por exemplo, após terminarem essas funções apresentam sempre uma visão muito clara do que deve ser a política na área de que foram responsáveis, mas que, por incompetência, falta de poder, visão diferente ou qualquer outra justificação, não realizaram. É o que eu chamo a Síndrome Pós-ministério, ou seja, é assim que se deve fazer, mas na altura, não me lembrei, não soube, não fui capaz ou ...

Nos tempos que vivemos, duros e incertos, mais se torna necessário a robustez e competência das políticas públicas. Quero acreditar que é possível fazer diferente, será, como sempre uma questão de opções.

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