Umas notas relativas a um ano que está a terminar e que de forma simples, mas preocupante, pode dizer-se que foi um ano de muros.
Os discursos produzidos na
imprensa e nas redes sociais, obviamente, o aumento de episódios de agressão
verbal e física "apenas" pela razão do “outro”, qualquer “outro” ser
diferente ou percebido como diferente, sustentam os muros atrás dos quais ficam
as “pessoas de bem”, uma figura de definição impossível. Mais do que questões
de natureza ideológica, trata-se de uma questão política naturalmente, é sobretudo um problema de natureza ética, cívica e … decência.
Como há pouco aqui escrevi,
existem linhas vermelhas que não podem ser ultrapassadas e estão a ser
ultrapassadas e de forma cada vez mais inquietante ignorando o quadro de
valores que regula, ou deve regular, o discurso e comportamento social e,
naturalmente o quadro constitucional em vigor.
Do que se tem ouvido, lido e
conhecido, comentar o quê? Como?
Para um tipo que em jovem adulto
passou pela mudança verificada em Abril de 74 e conheceu o tempo antes e o
tempo depois interroga-se e inquieta-se, porque falhámos, que mundo estamos a
construir? Que mundo esperará os meus netos e todas as crianças que têm a vida
na sua frente?
Estamos num tempo de perplexidade
e dúvida face ao crescimento de discursos populistas e demagógico, apelando à
intolerância, ao xenofobismo e a valores de direita radical muitos deles
atentatórios de direitos humanos básicos. Os exemplos são muitos, primeiro lá
por fora e agora também por cá vão-se multiplicando réplicas deste caminho que
nos deixa inquietos face ao futuro e criando ambientes de onde eclodem os ovos
da serpente.
Milhões de excluídos e pobres e
de jovens sem presente e sem futuro são um alvo fácil para discursos populistas
e radicais.
As sementes de mal-estar que que
estes milhões de pessoas carregam, muitos deles desde criança são muito
facilmente capitalizadas e mobilizadas.
Talvez a relativa tranquilidade
com que se assiste à construção de muros e barreiras de natureza diversa acabe
por não ser estranha.
Eles vão sendo construídos nas
nossas vidas conduzindo no limite à construção de "condomínios de um homem
só" rodeado de muros para que ninguém entre.
Estes muros são menos visíveis,
mas não perdem eficácia.
Como aqui tenho escrito, a
mediocridade da generalidade das lideranças e o que lhes permitimos fazer
criaram, por exemplo, um mundo de desigualdade e exclusão. É aqui, insisto, que
nasce o que nos assusta.
É esta a batalha que não podemos
perder e estou cheio de dúvidas se a estamos a ganhar. Também passa pela
educação, pela escola, pela formação cívica e pela cidadania.
Seria muito bom que o Ano Novo
fosse … Novo.
Sem comentários:
Enviar um comentário