Mais uma vez aqui retomo a questão crítica da utilização das redes sociais por parte dos mais novos.
A Austrália é, creio, o primeiro
país a estabelecer a proibição de acesso de menores de 16 anos às redes sociais
como o TikTok, Facebook, Snapchat, Reddit e X. A lei prevê multas elevadas às
entidades que se revelem incapazes de vedar o acesso de crianças e adolescentes
a estas plataformas. É certo que em alguns países já estão definidas algumas
restrições, mas não com esta dimensão.
Não tenho conhecimento suficiente
para saber se a proibição é possível ou facilmente contornada com dados
incorrectos.
Por outro lado, a experiência diária e, como agora se diz, a evidência mostram de forma cada vez mais clara como o excesso de tempo que crianças e adolescentes (mas não só) passam “trancados” em ecrãs, em particular envolvidos nas redes sociais, têm impacto negativo no seu bem-estar e saúde mental, no desenvolvimento de competências e capacidades cognitivas, sociais e emocionais e, naturalmente, na aprendizagem. São conhecidos muitos exemplos de situações graves ocorridas no contexto de utilização das redes sociais.
Em muitos sistemas educativos e
também por cá, vão surgindo iniciativas, sobretudo nos espaços escolares, no
sentido de minimizar esse tempo incluindo a redução da utilização dos recursos
digitais na aprendizagem, sobretudo em particular com os mais pequenos.
Certamente mais difícil será a mudança nos contextos familiares e comunitários. O próprio comportamento dos adultos não parece favorável a esse trajecto de mudança. Creio, aliás, a absoluta desregulação da utilização por parte dos adultos será um enorme obstáculo à auto-regulação por parte dos mais novos. Lembro-me estar numa conversa com pais de crianças no básico a falar sobre esta questão e referir as orientações das associações de pediatria ofalmológica relativas ao tempo aceitável de exposição a ecrãs em diferentes idades. Um pai comentou, "são opiniões". Pois, o problema é esse mesmo, as opiniões.
Muitas vezes aqui tenho abordado
esta questão tal como a abordei em muitas conversas com pais e encarregados de
educação e é clara a dificuldade de mudança dos comportamentos,
independentemente dos discursos de concordância com a preocupação ou a expressão
de dificuldades.
Continuo com dúvidas sobre a
bondade e eficiência de estratégias essencialmente proibicionistas, entendo que
será sempre mais eficaz e sustentado ainda que mais difícil, o incremento de
comportamentos de auto-regulação ajustados às diferentes idades.
No entanto, com alguma frequência
se alimenta o equívoco de que não proibir significa a ausência de regras e
limites. De todo, como tantas vezes afirmo, as regras e os limites são bens de
primeira necessidade no bem-estar global e no desenvolvimento saudável de
crianças e adolescentes.
É o bem-estar dos mais novos e a
qualidade global dos processos educativos que estão em jogo.
É uma questão demasiado
importante.
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