domingo, 1 de dezembro de 2024

DA ESCOLA MÁGICA E OMNIPOTENTE

 Os discursos sobre a educação e sobre a escola produzidos quer por muitos actores deste universo, quer por opinantes profissionais ou amadores, referem sistematicamente um conjunto de problemas, desafios como muitas vezes lhes chamam, com que a educação, enquanto sistema e em particular as escolas, se confrontam.

Em poucos anos passámos de uma escola percebida como mais direccionada para a instrução para uma escola à qual parece exigir-se a responsabilidade e competência para responder a todos as necessidades dos alunos.

De facto, aumentando até ao inaceitável o tempo de presença dos miúdos na escola, os problemas que os afectam são transportados para a escola, mas será que podemos ou devemos esperar que a escola seja responsável e capaz de gerir todos os problemas que os miúdos carregam na mochila?

Não creio, pelos menos com o modelo de escola e de organização da acção educativa que temos e, sobretudo, porque não me parece ser esse o caminho adequado.

Como pode ser a escola a gerir a pobreza e a exclusão que afectam as famílias de origem dos meninos que batem à porta da escola?

Numa sociedade de relações interpessoais pouco reguladas, muitas vezes violentas e desrespeitadoras, das elites ao cidadão comum, como resolve a escola os problemas do impacto deste clima nos comportamentos de crianças e jovens?

Numa sociedade, em particular em Portugal, em que os tempos da família para o exercício da parentalidade vão baixando por razões que se prendem com a organização do trabalho, mas também por opções e estilos de vida assumidos pelas famílias como pode a escola acomodar esta realidade?

Será que a escola é uma realidade mágica e omnipotente que tudo resolve? Qual deve ser a formação dos professores e a organização da escola para que, além de lidarem com construção do conhecimento os saberes, respondam a tudo o resto que afecta os alunos? E que outros profissionais devem estar na escola? Todos os que de alguma forma intervêm em problemas de crianças e jovens? Acho difícil, aliás, parece-me errado admitindo que isso seria possível.

Creio que o caminho passa por uma redefinição do sentido de comunidade educativa, na qual, mesmo fora da escola, devem existir recursos e dispositivos eficazes, sejam sociais, na área da saúde ou em qualquer outra que, em rede, possam a pedido da escola intervir a tempo e eficazmente.

Enquanto o discurso for no sentido de responsabilizar a escola por tudo e a própria escola assumir essa responsabilidade, por exemplo reclamando recursos para tal, a mudança, do meu ponto de vista, ficará mais difícil.

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