Os discursos sobre a educação e sobre a escola produzidos quer por muitos actores deste universo, quer por opinantes profissionais ou amadores, referem sistematicamente um conjunto de problemas, desafios como muitas vezes lhes chamam, com que a educação, enquanto sistema e em particular as escolas, se confrontam.
Em poucos anos passámos de uma
escola percebida como mais direccionada para a instrução para uma escola à qual
parece exigir-se a responsabilidade e competência para responder a todos as
necessidades dos alunos.
De facto, aumentando até ao
inaceitável o tempo de presença dos miúdos na escola, os problemas que os
afectam são transportados para a escola, mas será que podemos ou devemos esperar que a escola seja responsável e capaz de gerir todos os problemas que
os miúdos carregam na mochila?
Não creio, pelos menos com o
modelo de escola e de organização da acção educativa que temos e, sobretudo, porque
não me parece ser esse o caminho adequado.
Como pode ser a escola a gerir a
pobreza e a exclusão que afectam as famílias de origem dos meninos que batem à
porta da escola?
Numa sociedade de relações
interpessoais pouco reguladas, muitas vezes violentas e desrespeitadoras, das
elites ao cidadão comum, como resolve a escola os problemas do impacto deste
clima nos comportamentos de crianças e jovens?
Numa sociedade, em particular em
Portugal, em que os tempos da família para o exercício da parentalidade vão
baixando por razões que se prendem com a organização do trabalho, mas também
por opções e estilos de vida assumidos pelas famílias como pode a escola
acomodar esta realidade?
Será que a escola é uma realidade
mágica e omnipotente que tudo resolve? Qual deve ser a formação dos professores
e a organização da escola para que, além de lidarem com construção do
conhecimento os saberes, respondam a tudo o resto que afecta os alunos? E que
outros profissionais devem estar na escola? Todos os que de alguma forma
intervêm em problemas de crianças e jovens? Acho difícil, aliás, parece-me
errado admitindo que isso seria possível.
Creio que o caminho passa por uma
redefinição do sentido de comunidade educativa, na qual, mesmo fora da escola,
devem existir recursos e dispositivos eficazes, sejam sociais, na área da saúde
ou em qualquer outra que, em rede, possam a pedido da escola intervir a tempo e
eficazmente.
Enquanto o discurso for no
sentido de responsabilizar a escola por tudo e a própria escola assumir essa
responsabilidade, por exemplo reclamando recursos para tal, a mudança, do meu
ponto de vista, ficará mais difícil.
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