quinta-feira, 26 de abril de 2018

DO ABANDONO ESCOLAR PRECOCE


Contrariamente ao que se passa com polémicas, muitas vezes inconsequentes, ou com problemas conhecidos, as boas notícias em educação têm quase sempre uma divulgação discreta. Trata-se, provavelmente, de uma questão cultural e/ou de uma questão de gestão de interesses e agendas.
Segundo dados do Eurostat ontem divulgados, em 2017 a taxa de abandono escolar precoce entre os 18 e os 24, quem não passa do 3º ciclo do básico e não acede a formação profissional, situa-se nos 12.6%. Se reportarmos a 2006 a taxa era 38.5%, um salto notável. A média na Europa foi de 10.6% e como se sabe está definido pela UE que em 2020 a taxa seja de 10% que parece pouco provável que consigamos. Veremos.
Por outro lado, no que respeita à qualificação de nível superior, para o intervalo 30-34 anos, em 2017 atingimos um patamar de 33.5% que pode ser comparado como 12.9% em 2002 o que também evidencia um progresso significativo. Regista-se que a meta para 2020 seria 40% e a média europeia em 2017 foi de 39.9%, portanto, em cima do objectivo que para nós parece inatingível. Sublinhe-se que as mulheres têm taxas médias de qualificação superiores aos homens e também taxas inferiores de abandono escolar.
Uma primeira nota para registar a evolução positiva, realçar o trabalho de alunos, professores, escolas e famílias e estranhar que não se tenha já desencadeado a habitual luta pela paternidade dos resultados positivos com diferentes figuras e entidades a “chegarem-se à frente” para aparecerem na fotografia.
A segunda nota para relembrar o pesado caderno de encargos que ainda continuamos a ter pela frente, continuar a combater o abandono e a exclusão, quase sempre a primeira etapa da exclusão social, promover a qualificação, um bem de primeira necessidade e combater as desigualdades criando efectivos dispositivos de mobilidade social em que a escola faz a diferença e pode ajudar a contrariar o destino.
Só assim se promove a construção de projectos de vida viáveis e proporcionadores de realização pessoal e base do desenvolvimento das comunidades.
Neste caminho temos duas vias que se complementam e de igual importância, a prevenção do insucesso que leva ao abandono e a recuperação para trajectos de formação e qualificação da população que entretanto já abandonou.
Esperemos que algumas mudanças em curso e, sobretudo, a existência de dispositivos de apoio competentes e suficientes às dificuldades de alunos e professores, possam contribuir para a minimização do insucesso.
No que respeita à recuperação dos jovens que já abandonaram espero que a oferta de trajectos diferenciados de formação e qualificação ou iniciativas em desenvolvimento como o programa Qualifica, sucessor do Novas Oportunidades, ou os anunciados no âmbito do ensino superior tenha os meios necessários e resistam à tentação do trabalho para a “estatística”, confundindo certificar com qualificar.
Merecemos e precisamos de mais e melhor sucesso e qualificação e menos abandono e exclusão.

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