domingo, 29 de abril de 2018

A ENTRADA NA ESCOLA


No Observador encontra-se um trabalho cuja leitura se recomenda centrado da idade de entrada na escolaridade obrigatória. De acordo com a lei em Portugal a entrada na escola é obrigatória para as crianças completem seis anos de idade até 15 de Setembro. As crianças que completam os seis anos entre 16 de Setembro e 31 de Dezembro, já depois do início do ano lectivo, podem matricular-se de forma condicional, ou seja, frequentam se existir vaga na escola. Existe ainda a possibilidade legal, com autorização específica, de que uma criança ver antecipada ou adiada em um ano a sua entrada na escola. As dúvidas sobre a idade ajustada colocam-se sobretudo nos que entram com 5 anos, seja através da situação de condicional ou através de um pedido de antecipação.
Tal como a peça refere, os seis anos parecem ser uma idade ajustada para o início da escolaridade. Considerando a diversidade entre as crianças pode aceitar-se em alguns casos bem analisados que entrem mais cedo ou mais tarde. No entanto, creio que o melhor para a criança é que não se “acelere” este processo, tentação de muitos pais que assim antecipam vantagens futuras mas que na verdade podem implicar alguns riscos para a criança que, naturalmente, devem ser acautelados. Algumas notas sobre a entrada na escola repescadas de um texto que escrevi para a Visão.
Para a maioria das crianças e apesar da sua experiência na educação pré-escolar, a "entrada" na escola, ou melhor, o processo de início da escolaridade obrigatória, continua a ser uma experiência fundamental para o lançamento de um percurso educativo com sucesso.
Em muitíssimas circunstâncias da nossa vida, quando alguma coisa não correu bem, é possível recomeçar e tentar de novo esperando ser melhor sucedido. Todos nós experimentámos episódios deste tipo.
Pois bem, o processo de início da escolaridade envolve na verdade um conjunto de circunstâncias irreversíveis, ou seja, quando corre mal já não é possível voltar atrás e recomeçar com a esperança de que a situação vá correr melhor. Por isso se torna imprescindível que o começo seja positivo. Para isso, importa que seja pensado e orientado, que crie as rotinas, a adaptação e a confiança em miúdos e em pais indispensáveis à aprendizagem e ao desenvolvimento bem-sucedidos.
É fundamental não esquecer que os miúdos à "entrada" na escola não estão todos nas mesmas condições, pelas mais variadas razões, ambiente e experiências familiares, percurso anterior, características individuais, etc. o que exige desde o início uma atenção diferenciada que combata a cultura de que devem ser todos tratados da mesma maneira, normalizando o diferente, que alguma opinião publicada e ignorante defende. Muitas vezes os lugares da escola não conseguem acomodar a diversidade dos alunos.
Antes de, com voluntarismo e empenho, se tentar ensinar aos miúdos as coisas da escola é preciso, como sempre afirmo, dar tempo, oportunidade e espaço para que os miúdos aprendam a escola. Depois de aprenderem a escola estarão mais disponíveis para aprender então as coisas da escola.
Vai começar o tempo do trabalho "a sério" e muitas crianças irão rapidamente sentir-se pressionados para a excelência, o mundo não é para gente sem sucesso. Vão ter que adquirir competências, muitas competências, em variadíssimas áreas, porque é preciso ser bom em tudo e é preciso preparar para o futuro, curiosamente, descuidando, por vezes, o presente.
E vão também começar a perceber como anda confusa a cabeça dos adultos, como estamos sem perceber o nosso próprio presente e com dificuldade em antecipar o futuro, que será o presente deles.
Vão, parte deles, desaprender de rir, de se sentir bem e de brincar, a coisa mais séria que sempre fizeram.

2 comentários:

José Pacheco disse...

Amigo, porquê 31 de Dezembro? Por que não 1 de Janeiro? Idade para entrar na escola? O que é isso? Abraço fraterno!

Zé Morgado disse...

Pois é José Pacheco. No entanto, como sabes, tem emergido uma enorme pressão sobre os miúdos no sentido de se "escolarizarem" o mais cedo possível, a pressão para os acelarar e exigir a excelência é grande. Por outro lado, existe algo que não deve ser confundido com "escola" que é a educação pré-escolar (assim incorrectamente designada) que me parece importante na vida dos miúdos pelo que julgo aceitável que se entenda os seis anos como uma tempo ajustado para entrada no processo de "escolaridade obrigatória". Abraço