quinta-feira, 6 de julho de 2017

DAS AULAS E DOS INTERVALOS

O ME decidiu integrar o intervalo da manhã nas aulas do 1º ciclo na componente lectiva dos docentes o que faz diminuir a em meia hora diária o trabalho em sala de aula.
A medida obrigará também a um ajustamento na organização funcional das escolas que, do meu ponto de vista e considerando a autonomia que devem ter, deverão decidir a melhor solução considerando variáveis como tipologia, dimensão, recursos humanos, etc.
Sobre esta decisão duas notas breves.
Em primeiro lugar a diminuição do tempo de trabalho em aula. Deve recordar-se que os alunos portugueses têm um número de horas de aula anuais superior à média europeia e da OCDE considerando quer a componente obrigatória, quer a componente não obrigatória, as AEC. Os relatórios do CNE e os dados da OCDE, “Education at a Glance 2016", mostram isso mesmo. Assim sendo, não me parece que esta redução tenha efeitos negativos, como é sabido, mais trabalho nem sempre é melhor trabalho.
A segunda nota remete para integração da pausa da manhã na componente lectiva dos docentes.
Não sei se isto significa que os docentes assumam, de facto, a supervisão dessas pausas ou se trata de uma medida de natureza administrativa que ”apenas” passa a considerar esse espaço de tempo como componente lectiva. Conheço inúmeras situações de docentes do 1º ciclo que acompanham os intervalos mesmo sem que isso lhes seja contabilizado como componente lectiva como sei também que tal não acontece.
Também sabemos das enormes dificuldades com que algumas escolas se debatem com a insuficiência do número de auxiliares de educação, recuso a designação de assistentes operacionais e será mau que esta decisão seja uma forma enviesada de responder a este problema. 
No entanto, mesmo com números adequados e sem esquecer a sua importância que já aqui defendi e em trabalho com estes profissionais tenho tentado promover julgo que a contabilização do tempo da pausa no seu trabalho e a sua presença nos espaços de recreio são importantes sobretudo em idades posteriores.
A política dos anos mais recentes de mudanças na rede escolar com os centros educativos e os mega-agrupamentos tem como consequência em muitas comunidades um elevado número de alunos que exige supervisão adequada e competente e faz correr o risco de comportamentos desajustados entre os alunos.
É reconhecido que os problemas mais significativos sentidos nas escolas, indisciplina, violência, delinquência, bullying, etc. ocorrem em grande parte nos recreios pelo que, afirmo-o muito frequentemente, me parece fundamental que se dê atenção educativa aos tempos e espaços de recreio escolar.
Talvez não seja muito popular mas digo de há muito que os recreios escolares são dos mais importantes espaços educativos, aliás, muitas das nossas memórias da escola, boas e más, passam pelos recreios. Neste sentido, defendo que a supervisão dos intervalos, para além da colaboração dos funcionários, deveria contar com a participação activa dos docentes.
Acresce que a formação de muitos dos auxiliares, independentemente da sua motivação e profissionalismo, em matérias como supervisão educativa e mediação de conflitos, por exemplo, e/ou, o entendimento que têm das suas competências, muitas vezes não valorizadas pela própria comunidade educativa e geral, leva a alguma negligência ou receio de intervenção.
A reestrutura da enorme carga burocrática do trabalho dos professores, dos modelos de organização e funcionamento das escolas, por exemplo, poderiam também libertar horas de docentes para esta supervisão que me parece desejável e não só no 1º ciclo, antes pelo contrário. Esta visão não remete para um aumento do trabalho dos doscentes, têm que chegue, mas sim para mais qualidade em todo o trabalho educativo
A boa e atenta “profs-vigilância” é mais eficaz que um invisível “big brother”, por exemplo a vigilância electrónica, que alguns defendem, ou a presença regular inviável e indesejável de elementos forças de segurança nos espaços escolares como já tenho ouvido reclamar.
É hoje aceite a importância do clima da escola como factor associado ao sucesso do trabalho de alunos e professores e a minimização dos problemas ligados ao comportamento e à indisciplina.

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