sexta-feira, 9 de setembro de 2016

A SÍNDROME PÓS-MINISTÉRIO

Não acompanho suficientemente de perto a situação noutros países para ter uma perspectiva comparativa, mas existe uma espécie de síndrome em Portugal que afecta a classe política com experiência de poder. Esta síndrome, a que poderemos chamar "pós-ministério" ou, dito de outra maneira, “sei muito bem o que deveria ser feito, mas quando fui ministro esqueci-me”, é patente em muitíssimos ex-governantes oriundos dos partidos que já assumiram responsabilidades de governo em diferentes áreas.
Vem esta introdução a propósito de uma peça no DN em que a propósito do arranque do ano lectivo são ouvidos quatro ex-ministros da educação, Couto dos Santos, David Justino, Maria de Lurdes Rodrigues e Isabel Alçada oriundos do PSD e do PS, que identificam prioridades, recomendam estratégias e orientações políticas que promovam sucesso e qualidade, o grande desafio que enfrentamos.
O que me parece curioso nestas circunstâncias é a apresentação de uma visão clara sobre os males e constrangimentos da área sectorial em que exerceram funções políticas, no caso a educação, bem como, propostas de desenvolvimento e correcção visando a desejável qualidade e o progresso, depois de terem abandonado o poder nesse mesmo sector.
A pergunta, certamente estúpida e demasiado óbvia, que me ocorre face a este tipo de discursos é “então porque não fez, porque não defendeu assertivamente as ideias agora expressas, muitas a merecer concordância, quando teve poder para tal?” Podemos, com alguma habilidade, tentar encontrar respostas. Acabaremos, creio por definir, inevitavelmente, duas hipóteses básicas, não puderam ou não souberam, qual delas a mais animadora.
Na primeira, não puderam, implica questionar qual o poder que efectivamente o ministro detém relativamente às políticas do sector que tutela, ou seja, qual o verdadeiro nível de responsabilidade de quem assume o poder e as dificuldades para ultrapassar e gerir as corporações de interesses ameaçadas pelas mudanças. Na segunda, não souberam, sugere que a competência não abundará o que não me parece menos inquietante.
Em todo o caso, algum pudor e a humildade de nos explicarem porque não executaram as políticas que posteriormente defendem, seriam esclarecedoras e um bom serviço prestado à causa pública.
A questão é que muitos destes discursos que se apresentam como parte da solução, na verdade, são, foram, parte do problema.
Recordo a este propósito a afirmação do filósofo holandês Rob Riemen, numa conferência em Portugal, "A classe política dificilmente será capaz de resolver a crise. Ela é a crise".

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