terça-feira, 6 de setembro de 2016

OS TEMPOS DA ESCOLA

Mais umas notas a propósito dos resultados do inquérito realizado pelo Alexandre Henriques do blogue ComRegras,  "O que pensam os diretores e os presidentes de Conselhos Gerais sobre questões pertinentes da escola portuguesa", dirigido a directores de escolas e agrupamentos e a presidentes de Conselhos Gerais. Desta vez olhemos para os tempos da escola.
54.1% dos 181 directores que responderam ao inquérito concorda que o ano escolar seja organizado em dois semestres e não nos habituais três períodos de aulas. Quanto aos presidentes de Conselhos Gerais, 32.8 % defende a organização em semestres ainda que 41.2% afirme ser necessária uma revisão do calendário escolar. Algumas notas sobre os tempos da escola.
Esta posição dos directores sobre a organização em semestres é concordante com propostas conhecidas em Junho da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas defendendo a mesma ideia.
Como já tenho referido, não tenho uma posição fechada e fundamentada sobre as eventuais vantagens sendo certo que existem outros sistemas em que se verifica o modelo semestral.
No entanto, creio que mesmo numa organização em três períodos a situação que me suscita mais dúvidas é o desequilíbrio que frequentemente se verifica na duração dos períodos.
Dado que a interrupção da Páscoa marca o fim do 2º período e é uma data móvel as diferenças podem ser significativas.
Considerando o próximo ano lectivo e de acordo com a Associação o primeiro período terá 67 dias de aula, o segundo 54 e o terceiro 29 dias no caso dos alunos em anos de exame, 9º, 11º e 12º.
Parece claro que esta situação não é a mais adequada.
Dada a tradição talvez não seja fácil, mudar nunca é fácil, fazer com o que o calendário escolar não esteja colado a festividades móveis.
Neste contexto, creio que vale a pena reflectir nestas matérias, ouvindo a participação dos vários actores, estudando experiências de outros sistemas e, eventualmente, de uma forma tranquila, oportuna no tempo, repensar o calendário escolar.
Nesta reflexão deveria estar incluída a discussão dos benefícios e eventuais efeitos negativos da criação de uma “pausa” a meio do primeiro período modelo existente em vários países.
No entanto, de uma forma mais global creio que seria interessante reflectir sobre os tempos da escola olhando para outros aspectos.
Num país com as nossas condições climáticas, tal como genericamente no sul da Europa, e considerando boa parte do nosso parque escolar, aulas prolongadas até ao Verão seriam algo de, literalmente, sufocante.
A Confap tem defendido onze meses de actividade na escola. Sendo a guarda das crianças um problema sério e que reconheço também entendo ele não pode ser resolvido prolongando até ao “infinito”, a infeliz ideia de “Escola a Tempo Inteiro”, a estadia dos alunos na escola. A “overdose” é sempre algo de pouco saudável.
No que respeita aos tempos escolares, os alunos portugueses, sobretudo no início da escolaridade tem umas das mais elevadas cargas horárias. Como bem se sabe, mais horas de trabalho não significam melhor trabalho e os alunos portugueses já passam um tempo enorme na escola. Talvez seja de introduzir nesta equação a variável “áreas disciplinares e currículos”, considerando o número de áreas ou disciplinas, conteúdos, organização de anos e de ciclos, etc.
Neste contexto, creio que vale a pena reflectir nestas matérias, semestres ou trimestres, por exemplo, com a participação dos vários actores, estudando experiências de outros sistemas e, eventualmente, de uma forma tranquila, oportuna no tempo, sustentada, repensar os tempos da escola.

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