sábado, 17 de agosto de 2013

AS FORÇAS DE BLOQUEIO

Numa postura que já não é nova Passos Coelho entende por bem alertar o Tribunal Constitucional para os efeitos decorrentes da sua tarefa, defender o quadro constitucional que temos. Assim, numa estranha e pouco aceitável forma de pressão o Primeiro-ministro espera que o Tribunal proceda de acordo com os seus objectivos e não de acordo com as regras constitucionais. Se assim não fosse seria dispensável o “alerta dramatizado”.
Na verdade, a generalidade das pessoas assume com frequência um discurso sobre as dificuldades ou insucessos que se pode designar por "atribuição causal externa". Dito de outra maneira, quando alguma coisa não está bem ou não corre bem, tal facto dever-se-á a algo exterior à nossa acção ou responsabilidade. Falhamos por causa do tempo, da hora, do vento, dos outros, do material, etc., etc., conforme as tarefas e as circunstâncias. Como é evidente, este procedimento é bastante mais fácil o que atribuir a nós próprios a causa da dificuldade ou do insucesso. Nós somos bons e fazemos bem, se algo corre mal a culpa, a responsabilidade, deve estar algures. Também se percebe que, ao contrário, é com a maior das facilidades que atribuímos todos os sucessos e realizações às nossas competências e qualidades, o insucesso é que é culpa dos outros ou de alguma coisa.
No mundo da política são particularmente frequentes os exemplos deste funcionamento.
Dito de outra maneira e aplicando a esta situação,  o Governo elabora um diploma que poderá ter conteúdos anticonstitucionais. A responsabilidade pelas consequências da eventual inconstitucionalidade é do Tribunal, não de quem as elaborou contra a Constituição.
Mais um exemplo de atribuição causal externa a algo de que evidentemente é o primeiro responsável.
A qualidade das lideranças políticas também se afere pela capacidade de perceber e interpretar a realidade, ajustando políticas, discursos e comportamentos às circunstâncias históricas. Isto pressupõe a capacidade de mudança, de assumir da falibilidade, da humildade do reconhecimento do erro, sendo que esta atitude não deve ser confundida com fraqueza.
Ao contrário, a persistência no erro, a fuga para a frente, o entendimento de que a realidade está enganada e a sua visão é a certa, a persistência cega em políticas e em discursos fracassados, etc., são atributos dos pequenos líderes, dos líderes sem dimensão e capacidade liderança e de percepção dos problemas reais das pessoas, da maioria das pessoas.
É por isto, também, que o cenário político em Portugal é tão preocupante.

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