quarta-feira, 30 de março de 2011

À PRESSA

Um dia destes, estava um grupo pequeno de volta de um café na sala de professores a aproveitar uns, poucos, minutos de paragem, quando alguém se referiu ao cansaço que nesta altura se começa a sentir nos miúdos, tornando-os dificilmente mobilizáveis para o trabalho.
No grupo estava o Professor Velho, o que está na biblioteca e fala com os livros. No seu jeito de sempre, tranquilo e sem levantar muito a voz disse “é da pressa”. Os colegas estranharam e o Velho acrescentou: “Acho mesmo que é da pressa, muitas famílias logo que os miúdos nascem, mas sobretudo quando entram na escola, começam a entender os próximos anos como sendo fundamentalmente a preparação para ser adultos. Então, muitas vezes sem se dar conta pressionam os miúdos para crescer rapidamente e bem preparados para enfrentar a idade adulta. Dão-lhes escola até os intoxicar, é preciso aprender muito e depressa. Enviam-nos para actividades sem fim que lhes desenvolvem imensas capacidades e competências que são fundamentais, dizem, para que se transformem em adultos realizados, ou como mais frequentemente afirmam, em pessoas com sucesso. Estes pais não toleram a falha, exigem a excelência, detestam a brincadeira que entendem como uma perda de tempo.
Esquecem-se ou nunca perceberam que a infância é um tempo que vale por si só, irrepetível e imprescindível. Miúdos a quem roubam a infância, um dia vão querê-la de volta e nessa altura vão fazer asneiras que já podem ser complicadas, o tempo e a idade já serão outros. É certo que a infância também é um tempo em que se enche a mochila que nos vai acompanhar em adultos, mas é preciso não esquecer, é fundamental que a infância seja vivida enquanto infância, sem pressa.
Depressa e bem não há quem diz o povo."
Entretanto acabou o intervalo, sem tempo para mais conversas, é sempre à pressa.

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