sexta-feira, 23 de julho de 2010

O QUE QUERES SER QUANDO FORES VELHO?

Não, não é engano, é mesmo isso que queria escrever, não era que queres ser quando fores grande. Esta formulação talvez seja a pergunta que mais vezes é feita a miúdos e adolescentes. Acontece que os miúdos e adolescentes chegam a grandes, na sua grande maioria não são o que responderam à inevitável pergunta, mas a partir daí, estranhamente, ninguém mais pergunta ou se inquieta com o que um grande quer ser quando for velho. Acresce que hoje, felizmente, cada vez mais os grandes chegam a velhos.
Já sendo grande há uns anos e estando a bater à porta da velhice, interrogava-me sobre que quero eu ser quando for velho.
Bom, gostava de ser velho, ou seja, existir enquanto velho e com a qualidade de vida física funcional.
Costumo dizer que um dos privilégios da velhice é ter histórias para contar. Eu gostava de poder contar histórias. Gostava de contar histórias a gente mais nova, não para ensinar, ensinar é tarefa para grandes, pais e professores, não é para velhos. As histórias dos velhos são para ouvir e conversar, não são para aprender.
Outro privilégio que a velhice traz é assim uma espécie de inimputabilidade, podemos dizer e fazer coisas estranhas que as pessoas aceitam e dizem de forma condescendente, é velho, às vezes até acham graça. Deve ser bom poder dizer e fazer, quase, o que nos vem à cabeça. Quando for velho quero ser assim.
Quando for velho quero ter o tempo, não o tempo do dever, mas o tempo do querer, embora acredite que quando se é velho o tempo parece mais pequeno. Também gostava que os que já foram pequenos comigo, ficaram grandes ao pé de mim, também permanecessem por perto quando forem velhos.
Não parece assim grande coisa, mas eu acho que os velhos só ligam ao essencial.

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