quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O RAPAZ QUE TINHA FRIO

Num dos últimos dias, no átrio da escola, a professora Dulce cruzou-se apressada com o Professor Velho, o que está na biblioteca e fala com os livros.
Olá Velho, tudo bem contigo? Está frio!
É verdade, estamos no tempo e até está achegar um bocadinho tarde, nem o frio tem vontade de aparecer. A tua miudagem está a andar bem?
Vão andando dentro do que se pode esperar de gente desta idade e destes tempos. O Mário, tu conheces, aquele que esteve no outro dia de conversa contigo na biblioteca quando estivemos a trabalhar, preocupa-me um bocadinho.
Sim estou a ver, miúdo curioso e então?
Anda estranho, passa o tempo a meter-se com os colegas, sempre a chamar a atenção deles, faz piruetas e macaquices o tempo todo. Comigo e com a auxiliar, a D. Joana, não nos larga, até aos intervalos, se não o mandamos brincar passa o tempo ao pé de nós.
Eu acho que o Mário tem frio.
Tem frio?! Estás a falar a sério ou a brincar?
Estou a falar a sério Dulce. Da conversa que tive com ele e do que me contas parece que o Mário, tal como muitos outros miúdos, está muito só, falta-lhe aconchego, o mundo fica frio para ele e para outros como ele. No fundo, quando faz essas cenas para chamar a atenção dos colegas e anda de roda de ti e da D. Joana, que tem ar de avó boa, está a puxar uma manta para cima de si para se sentir aconchegado. Tomem cautela, não o deixem muito ao frio, às vezes faz doer até aos ossos.
Velho, dizes cada coisa.
Conversa de velho, que mais há-de ser.

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