sexta-feira, 16 de março de 2007

NÃO QUERO ESTAR FECHADO


(Foto de Jorge Carvalho)

Embora não simpatize com o título da fotografia de Jorge Carvalho, “o pobre puto”, considero que a excelente imagem nos fornece matéria para pensar.

Como já referi em textos anteriores, a observação das sociedades actuais permite a paradoxal constatação de que, simultaneamente ao desenvolvimento de sociedades mais abertas, assistimos ao desenvolvimento de pessoas mais fechadas na comunicação e relação pessoal. Por vezes, ao verificar a acessibilidade a informação, conhecimento e factos, de natureza pessoal ou institucional, característica de sociedades abertas e da informação, pode confundir-se a vida mais exposta (frequentemente em demasia) e as trocas virtuais, com um maior e melhor relacionamento pessoal. Este movimento de fechamento é global pelo que muitas crianças e jovens acabam, também elas, por ser envolvidas. Alguns fecham-se num ecrã sós ou, em diálogos virtuais com companheiros tão sós quanto eles. Outros fecham-se em escolas que não alcançam e acreditam estar bem ao lado dos colegas que alcançam e que vivem da mesma maneira. Ainda outros habitam em famílias fechadas onde se não fala para evitar a implosão. Há também quem se feche por dentro, assustado com o que está por fora. Existem também alguns que, mesmo fechados, insistem em abrir uma janela para espreitar. Se assim for, talvez não seja um pobre puto.

Ah! Já me esquecia. Existem ainda muitos putos que vão ser gente, com os outros e não ao lado ou independentemente dos outros. Tenho a certeza.

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