sexta-feira, 24 de julho de 2009

CADA RUGA É UMA BÍBLIA

Já aqui vos tenho falado de algumas histórias das minhas andanças pelas terras de África. Esta também é de Inhambane e traz de novo o velho Carlos Bata, meu anjo da guarda no tempo que passei na terra da boa gente. O Velho Bata, homem com perto de 80 anos, usava na linguagem comum uma imensidade de imagens que lhe faziam produzir um discurso de uma riqueza e surpresa constantes. Há algum tempo passou por aqui no Atenta Inquietude como o homem, expressões suas, que sabia ler até à última letra e escrever nem que fosse com uma Parker.
Hoje, a propósito de um material que li sobre a forma como os velhos são arrumados, emprateleirados, em lares onde, em melhores ou piores condições, esperam a partida e de tantos putos sós que beneficiariam da companhia, da mestria e das histórias dos velhos e sós continuam, todos, lembrei-me de mais uma das expressões frequentemente usadas pelo Velho Bata. Sempre que queria sublinhar a sua experiência e conhecimento sobre as coisas da vida apontava para a enrugada testa e exclamava, “É das rugas, cada ruga sabe tanto como uma bíblia”.
Talvez eu próprio esteja a ficar velho, mas acho uma imagem lindíssima. Nem sequer consigo perceber muito bem o que levará as pessoas a esconder as rugas. No fundo, negam ou recusam as bíblias que a vida lhes oferece, ou seja, não entenderam a vida.

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