domingo, 31 de maio de 2009

UM PAÍS PRECÁRIO

A existência nos diferentes patamares da Administração Pública de milhares de situações de prestação de serviços nos limites da legalidade ou mesmo para lá desses limites é conhecida de há muito. Também se sabe que este cenário coexiste com um discurso hipócrita de combate ao trabalho precário e de “má qualidade” como agora se diz, sempre assumido por sucessivos governos. É evidente que a fragilidade destes vínculos os torna mais expostos a situações de baixa de emprego como a que atravessamos. No entanto, analisando mais friamente esta matéria creio que, no fundo, se trata de uma questão de coerência e cultura, ou seja, somos, por assim dizer, um país precário pelo que se não estranhará a precariedade de muitas dimensões da nossa vida colectiva. Vejamos alguns, poucos, exemplos.
O sistema de justiça ao nível da eficácia, equidade e oportunidade é completamente precário.
Na área da saúde temos milhares de pessoas sem médico de família e listas de esperas insustentavelmente longas para acesso a várias consultas de especialidade ou cirurgia.
Vejam o ambiente precário que a PEC – Política Educativa em Curso criou nas escolas. Ainda ontem numa situação de perfeita normalidade, disse a Sra. Ministra, entre 55 a 70 000 professores manifestaram o seu contentamento com a tranquilidade e eficácia verificadas nas escolas.
Pensem nas condições de vida precária em que vivem milhares de reformados e pensionistas com o valor das suas reformas e pensões. Nesta matéria pode acrescentar a vida precária de milhares de desempregados. Esta precariedade é evidenciada, por exemplo, no aumento exponencial do recurso aos Bancos Alimentares que estão em campanha de recolha de bens alimentares durante este fim-de-semana.
Pensem nas pobres vítimas de trabalho precário, por exemplo, políticos que sem passado profissional, passam pelos aparelhos políticos, exercem por pouco tempo (o vínculo é precário) funções governativas e acabam despedidos e colocados numa qualquer miserável administração de empresas com que contactaram, precariamente, quando desempenharam funções governativas.
Muitas mais situações de precariedade na nossa comunidade poderiam ser referidas. Finalizo como acabei, a precariedade faz parte de nós, está presente em muito do que nos envolve e assim se manterá.

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