domingo, 24 de maio de 2009

OS MIÚDOS, OS ECRÃS E A SOLIDÃO

Durante a semana foi divulgado um estudo que passou relativamente despercebido. Eu próprio tinha decidido referi-lo aqui no Atenta Inquietude e só hoje reparei nas notas que tinha tirado. O estudo, realizado pela empresa Zero a Oito, mostra-nos alguns dados interessantes sobre a relação entre as crianças e jovens dos 3 aos 16 e os media, considerando TV, PC, consola, MP3, Ipods, etc. Os inquiridos, cerca de 1000, gastam, em média, 5 horas diárias na utilização destes diferentes meios, predominando PC e TV. Também é referido que 45% têm TV e PC no seu quarto e que na agenda diária cabem em média 2 horas de relacionamento familiar.
Os dados não surpreendem, confirmam outros estudos neste âmbito e sublinham o que recorrentemente tenho vindo a sustentar. Os miúdos vivem muito sós. Na escola, pela sua massificação e incapacidade de diferenciação, a maioria dos miúdos passa despercebida enquanto indivíduos, conhecem-se melhor os “muito bons” e os “muito maus”. Acontece mesmo que alguns miúdos só “sentem” que têm alguma atenção quando são maus. Em casa, têm um ecrã como companhia durante cinco horas, embora as redes sociais virtuais possam “disfarçar” juntando quem “sofre” do mesmo mal e têm um tempinho remanescente para estar em família, quase sempre ainda à sombra de uma televisão.
De há muitos anos que se sabe que não se cresce só, cresce-se na relação com pares e adultos. É por isso que, embora entenda a expressão, ouvir chamar a este tempo, o tempo da comunicação, me faz sorrir, acho mais apropriado considerá-lo o tempo do estar só ou a assistir à solidão dos outros.

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