sábado, 20 de novembro de 2021

A GENEROSIDADE DAS OLIVEIRAS

 Está terminada a apanha da azeitona. Num ano de grande produção acabámos por ter alguns sobressaltos com a entrega no lagar que tem tido dificuldade em processar a azeitona que chega. Assim, alguma acabou por ficar nas árvores ou cair pois secou antes de a conseguirmos colher. De qualquer forma ficámos em cima das três toneladas o que foi excelente. Vamos ver a quantidade azeite que teremos.

Foi duro, mas com a grande ajuda do Mestre Zé e do Valter a coisa fez-se. Está ainda por tratar da lenha resultante da limpeza das oliveiras pois nas que têm mais azeitona procedemos ao corte dos ramos mais altos para depois bater a azeitona já no chão havendo depois que limpar e traçar a lenha resultante. Outras serão limpas lá mais para a frente. O trabalho nunca acaba e varejar, apesar da leveza das varas de carbono, e trabalhar com as motosserras durante horas é áspero.

Estava a comentar a dureza da tarefa com o Mestre Zé e como ele a aguenta apesar dos oitenta anos. Disse-me a rir que estava a fazer o que sempre fez. Perante a minha estranheza, esclareceu, sempre fiz o que podia, noutro tempo podia era mais. É verdade, o Mestre Zé é um sábio, em qualquer altura da nossa estrada só fazemos o que podemos.

As oliveiras são as árvores mais generosas que conheço e também das mais bonitas. Começam por dar as azeitonas que se comem em três variantes, pisadas, retalhadas e de conserva, qual delas a mais saborosa. Este ano, as retalhadas, que já estamos a consumir porque se  preparam mais cedo ficaram que nem vos conto. Toda a gente tem uma arte de as temperar e, claro, nós também já temos os segredos, aprendemos com o Mestre Zé.

As azeitonas vão para o lagar e virá o azeite, a alma do comer bom, e como tem alma o azeite do Meu Alentejo.

Para além da azeitona e do azeite, a oliveira ainda é a mais calorosa das árvores, sempre a aquecer-nos. Aquece-nos quando maldosamente lhe batemos, varejamos, para nos dar a azeitona, aquece-nos quando a limpamos de pés de burro e cortamos os ramos e troncos para assegurar a sua renovação, aquece-nos quando rachamos e arrumamos a lenha que nos deu e, finalmente, ainda nos aquece quando nas noites longas e frias do Inverno arde no lume de chão ou na salamandra.

Como bondade final, esta generosa capacidade de dar vive numa escala incomensurável para nós, dura séculos como algumas das que estão cá no monte.

Resta agora aguardar até lá para Janeiro para passar no lagar e trazer o azeite. Entretanto e como aqui se diz, estou de posse da lenha da limpeza, esgalhar os ramos e traçar a mais grossa para a lareira e para a salamandra que nas noites frias nos fazem companhia.

E são assim os dias do Alentejo.



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