segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

A MATEMÁTICA É UMA COISA MUITO DIFÍCIL

No DN encontra-se um trabalho interessante sobre a Matemática e a forma como é percebida pelos alunos, a disciplina mais difícil. Com dados de 17/18 e interpelados sobre as dificuldades sentidas nas diferentes disciplinas, a Matemática foi percebida como a mais difícil por 41,8% dos alunos dos cursos científico-humanísticos e 31,4% dos alunos em cursos profissionais.
Apesar da melhoria global verificada entre 2012 e 2018, a taxa de conclusão do ensino básico aumentou 4,6%, de 90,3% para 94,9% e no ensino secundário de 79,9% para 86,1%, os resultados em Matemática continuam mais baixos e muito associados a variáveis sociodemográficas, condições económicas e nível de escolarização familiar.
Para além destas questões que são críticas a explicação para os resultados a Matemática é complexa e nem sempre consensual como a peça do DN bem ilustra com os diferentes pontos de vista de duas Associações, Sociedade portuguesa de Matemática e a Associação dos Professores Matemática.
Os resultados serão influenciados, não numa relação de causa-efeito, por múltiplas variáveis como modelo e conteúdos curriculares, número de alunos por turma, tipologia das turmas e das escolas, dispositivos de apoio às dificuldades de alunos e professores ou questões de natureza didáctica e pedagógica. Variáveis desta natureza terão também algum peso e algumas vezes já aqui referimos estas questões.
Acresce a esta complexidade um conjunto de outras variáveis menos consideradas por vezes mas que a experiência e a evidência mostram ter também algum impacto.
São variáveis de natureza mais psicológica como a percepção que os alunos têm de si próprios como capazes de ter sucesso, os alunos de meios menos carenciados percebem-se como mais capazes de aprender matemática.
É também conhecido que os pais com mais qualificação e de mais elevado estatuto económico têm expectativas mais elevadas sobre o desempenho escolar dos filhos o que se repercute na acção educativa e nos resultados escolares e, naturalmente, mais facilmente mobilizam formas de ajuda para eventuais dificuldades, seja nos TPC, seja através de ajuda externa.
Finalmente uma outra variável neste âmbito, a representação sobre a própria Matemática. Creio que ainda hoje existe uma percepção passada nos discursos de muita gente com diferentes níveis de qualificação de que a Matemática é uma “coisa difícil” e ainda de que só os mais “inteligentes” têm “jeito” para a Matemática. Esta ideia é tão presente que não é raro ouvir figuras públicas afirmar sem qualquer sobressalto e até com bonomia que “nunca tiveram jeito para a Matemática, para os números”. É claro que ninguém se atreve a confessar uma eventual “falta de jeito” para a Língua Portuguesa e às vezes bem que “parece”. A mudança deste cenário é uma tarefa para todos nós e não apenas para os professores e seria importante que acontecesse.
De facto, este tipo de discursos não pode deixar de contaminar os alunos logo desde o 1º ciclo convencendo-se alguns que a Matemática vai ser difícil, não vão conseguir ser “bons” e a desmotivar-se.
Não fica fácil a tarefa dos professores mas no limite e como sempre será a escola o braço operacional da comunidade que quer fazer a diferença a fazer a diferença. Não podemos falhar.
  

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