sábado, 4 de agosto de 2018

PROFESSORES, UMA CLASSE ENVELHECIDA E DESGASTADA


Foi divulgado durante a semana o relatório da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, “Educação em Números – Portugal 2018”.
Para além de outros dados parecem particularmente relevantes os indicadores relativos ao perfil etário dos docentes que mostram o acentuar do envelhecimento da classe.
No que respeita à educação pré-escolar 48.5% dos educadores de infância tem 50 ou mais anos. No 1º ciclo a percentagem é de 35.6%, no 2º é de 49.6% e no 3º ciclo e ensino secundário é de 45.2%. Podemos afirmar que à excepção do 1º ciclo, em todos os patamares do sistema perto de metade dos professores tem 50 ou mais anos.
Como escrevi há algum tempo, num país preocupado com o futuro este cenário faria emitir, como hoje dramaticamente está bem presente, um alerta vermelho e agir em conformidade.
Acresce que como diferentes estudos realizados e em desenvolvimento mostram que, tal como se passa noutros sistemas também em Portugal os docentes expressam elvados e preocupantes indicadores de “burnout”, estado de esgotamento físico e mental provocado pela vida profissional, associado a baixos níveis de satisfação profissional.
Este quadro é inquietante, uma população docente envelhecida e a revelar preocupantes sinais de desgaste.
Também se sabe que as oscilações da demografia discente não explicam a saída de milhares de professores do sistema, novos e velhos, como também não é previsível dadas as circunstâncias do recrutamento que os docentes que conseguiram entrar para o quadro contribuam de forma significativa para a renovação etária. Muitos dos que entraram têm carreiras longas vividas em situação precária.
Não esqueçamos ainda a deriva política a que o universo da educação tem estado exposto nas últimas décadas, com o alimentar de políticas públicas que não valorizam os professores com impacto evidente no clima das escolas e nas relações que a comunidade estabelece com estes profissionais.
Sabemos que os velhos não sabem tudo e os novos nem sempre trazem novidade. Mas também sabemos que qualquer grupo profissional exige renovação pelas mais variadas razões incluindo emocionais, de suporte, partilha de experiência ou pela diversidade.
As salas de professores são cada vez mais frequentadas, quando há tempo para isso, por gente envelhecida, cansada e pouco apoiada que muitas vezes pergunta "Quanto tempo é que te falta?"
Na verdade, ser professor é uma das funções mais bonitas do mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente, mas é seguramente uma das mais difíceis e que mais respeito e apoio deveria merecer. Do seu trabalho depende o nosso futuro, tudo passa pela educação e pela escola.
Os sistemas educativos com melhores resultados são, justamente, os sistemas em que os professores são mais valorizados, apoiados e reconhecidos.

Sem comentários: