domingo, 19 de agosto de 2018

É SOBREDOTADO, NÃO PRECISA DE APOIO


Apesar de algumas afirmações que me parecem susceptíveis de discussão, o texto de Vera Silva no Público, “Sobredotados: espectros de sabedoria”, aborda uma matéria que justifica uma atenção que nem sempre merece, o trajecto de alunos sobredotados.
Este grupo que de acordo com os especialistas se estima até cerca de 80000 crianças e jovens em Portugal, enquanto grupo minoritário sofre com essa natureza. Parece consensual que os apoios aos alunos, professores e pais são manifestamente insuficientes. Aliás e como muitas vezes aqui tenho referido, esta questão envolve crianças e adolescentes com necessidades especiais de diferentes naturezas. Nada de novo, portanto, lamentavelmente.
No caso mais particular das crianças com sobredotadas acrescem algumas outras questões. Em primeiro lugar a dificuldade em avaliar este tipo de situações e o desconhecimento genérico sobre esta matéria que parte significativa dos agentes educativos evidencia. Em muitas situações, conheci algumas, os comportamentos e o funcionamento das crianças e até mesmo as dificuldades escolares experimentadas por algumas eram considerados consequência das mais variadas razões nunca relacionadas com um quadro de sobredotação.
Acontece ainda que com alguma frequência se estabelece o enorme equívoco de que "se a criança é sobredotada não precisa de ajuda", sendo que o próprio Ministério da Educação assim considerou durante muito tempo.
Na verdade, as crianças e adolescentes com sobredotação podem experimentar enormes dificuldades no seu percurso educativo a que as escolas dificilmente dão respostas, tal como têm dificuldade em assegurar respostas eficazes e com os recursos necessários a outros grupos de alunos.
Sem ser um especialista nesta área, a sobredotação, entendo que a única forma de responder à diferença entre os alunos é diferenciando o trabalho educativo, diferenciando as respostas educativas, construir modelos curriculares de natureza mais aberta e flexível tal como definir dispositivos de avaliação também com algum nível de diferenciação e, finalmente ter modelos de autonomia e organização escolar reais bem como dispositivos de apoio competentes e suficientes.
Este cenário, enunciado a propósito dos alunos sobredotados, é a melhor forma de acomodar as diferenças entre os alunos, qualquer que seja a sua expressão, e promover, de facto, uma educação inclusiva que idealmente não deixe ninguém para trás.

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