No último Expresso está uma peça que
julgo merecer atenção tanto mais que estamos em período de férias. Chamava-se atenção para os efeitos de acção educativa
por parte das famílias que se traduz numa excessiva preocupação com a limpeza
na actividade das crianças. Como se referia no “lead” do trabalho, “Limpeza em
excesso dificulta a formação do sistema imunitário. Nunca foram tantas as
crianças com doenças alérgicas, autoimunes e inflamatórias. Médicos pedem
infância menos assética”.
Muitas vezes aqui tenho referido
este aspecto, a importância das crianças desenvolverem, por rotina e não por
excepção, actividades de ar livre e contactos com os materiais disponíveis
nesses contextos.
Somos dos países da Europa em que
adultos e crianças menos desenvolvem actividades de ar livre exterior contrariamente,
por exemplo, ao que se verifica nos países nórdicos. É verdade que esses países
têm habitualmente climas bastante mais amenos que o nosso mas, ainda assim,
poderíamos ter durante mais tempo crianças e adultos a realizar actividades no
exterior. O Estudo do Meio poderia também por regra ser … no meio.
Estão de há muito identificadas
as vantagens de diferentes naturezas que estas actividades trazem às crianças e
também aos adultos, não vale a pena repetir. O trabalho do Expresso vem dar uma
achega importante em termos de saúde e prevenção.
Recordo umas notas a partir de
uma cena a que assisti e que já aqui contei.
Num fim de tarde em que fazia uma
caminhada num espaço verde muito grande e bonito que existe perto de casa passei
por um grupo familiar. Deu para perceber que uma gaiata pequenina vinha
descalça ao colo do pai e pedia para que ele a pusesse no chão relvado. Ouvi o
pai dizer que não se pode andar descalço, para ela não ser teimosa porque se
quis descalçar e agora tinha que ir ao colo. Para convencer a criança,
falava-lhe, cito dos "bichos que estão no chão”, da “quantidade de doenças
que apanharia de andar na relva descalça" e mais que entretanto já não
ouvi. Reparei ainda que a criança vinha a comer qualquer coisa que ia retirando
de um pacote.
É notável, aquele pai revelava
uma enorme preocupação com os riscos gravíssimos de andar descalço num relvado
bem tratado e, habitualmente, sem a visita dos cães e achava aparentemente,
natural a criança comer qualquer coisa hipercalórica certamente muito perto da
hora de jantar.
Esta atitude é elucidativa das
questões que a peça do Expresso coloca.
Deixem lá os miúdos andar
descalços, rebolar na relva e brincar ao ar livre. E já agora juntem-se a eles. Faz bem a todos.
Finalmente, ainda uma chamada de
atenção para duas peças muito interessantes sobre estas questões expressas por
dois especialistas.
A primeira, uma entrevista ao
pediatra Pedro Oom a propósito do seu livro, “Infectário”. A segunda, também
uma entrevista ao investigador Brett Finlay, co-autor do livro “Deixe-os Comer
Terra”. Em ambas as entrevistas se sublinha a importância de repensar a nossa
acção educativa muito marcada pela inibição de experiências e actividades
importantes a vários níveis para o desenvolvimento, saúde e bem-estar das
crianças.
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