terça-feira, 13 de março de 2018

DA DELINQUÊNCIA EM CONTEXTO ESCOLAR


Ao contrário do que aconteceu no resto do país os episódios de delinquência em recinto escolar ou no seu perímetro aumentaram 10% nas escolas da área metropolitana de Lisboa em 16/17, a mesma taxa de abaixamento no restante território para o mesmo período. Não conheço as razões para esta situação mas a escala de problemas e a correspondente escala de necessidade de recursos não deverá ser alheia à subida.
Como é sabido e reconhecido a instituição escola é de alguma forma um espelho das comunidades em cada momento da história pelo em comunidades com índices de criminalidade significativos, com níveis de desesperança e dificuldades, com alterações nos quadros de valores, não será estranho que tal clima se reflicta no contexto escolar.
No entanto, a escola não pode ser responsabilizada e considerada competente por e para todo o universo de problemas nos comportamentos dos mais novos. Para situações de pré-delinquência ou perturbações do comportamento, por exemplo, pode, evidentemente, dar contributos mas não assumir a responsabilidade pelo que importa clarificar a análise.
Neste sentido, importa definir dimensões diferentes ainda que associadas, a delinquência verificada em contexto escolar ou nas proximidades e a indisciplina escolar que, aliás também em níveis preocupantes.
Neste quadro tal como nos resultados escolares, também se deseja que a escola possa fazer a diferença em matéria de comportamentos.
Para que tal possa acontecer é necessário mais do que o desejo, a retórica e a boa vontade e empenho de direcções, professores, técnicos, funcionários, alunos e pais.
Algumas notas avulsas e sem hierarquia de importância.
Apesar de sabermos que o trabalho desenvolvido no âmbito da Formação Cívica seria pouco interessante em algumas escolas o seu desaparecimento dos conteúdos curriculares obrigatórios não poderia ter acontecido. Muitas escolas procuraram e procuram desenvolver projectos e iniciativas neste âmbito mas faltam recursos docentes e técnicos.
Nos espaços curriculares existentes dificilmente cabem abordagens mais diferenciadas face à pressão decorrente de programas demasiado extensos e prescritivos. A esta situação acresce o número de alunos por turma que se verifica em muitos territórios educativos. Não é certamente por acaso que na generalidade das instituições de ensino privado que conheço continuam a existir espaços curriculares e actividades dedicadas à formação pessoal dos alunos.
Faltam professores que possam desenvolver projectos com impacto nos comportamentos dos alunos, faltam técnicos, psicólogos por exemplo que podem ser um contributo para minimizar risco de comportamentos desajustados e mediar o trabalho com famílias.
Faltam funcionários, assistentes operacionais, que com alguma formação permitam melhor acompanhamento de recreios e outros espaços escolares minimizando o risco de comportamentos desajustados.
Falta uma menor carga burocrática em cima do trabalho de docentes e um clima de maior serenidade nas escolas, uma variável reconhecidamente com impacto nos comportamentos de todos os que nela vivem.
Procurar responder desde cedo aos riscos de comportamento socialmente inadequado o que é um investimento com retorno garantido.
No entanto, como sempre, é uma questão de opção política.

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