quinta-feira, 8 de março de 2018

DO ENSINO SUPERIOR, INCENTIVOS À MOBILIDADE


Li no Público que os alunos no 1º ano do ensino superior que “passem de ano” completando pelo menos 36 créditos terão como prémio viajar de forma gratuita de comboio durante uma semana.
Confesso que fiquei algo surpreendido. De há uns anos a esta parte a instituição do sistema de créditos (ECTS) no ensino superior definiu 60 créditos por ano lectivo, 30 por semestre, como regra. Como deve entender-se a passagem “com aproveitamento” completando 36 créditos? Estarei a ver mal certamente.
Ainda assim, será que o prémio de viajar de comboio de forma gratuita e durante uma semana será parte da política de mobilidade no ensino superior?
Claro que os incentivos são sempre positivos mas …
Talvez seja de recordar o estudo recentemente divulgado e realizado sob a tutela da Direcção Geral do Ensino Superior identificou, algo de há muito conhecido, um dos mais fortes obstáculos à frequência do ensino superior, bem como uma das causas mais significativas de abandono antes de completar ciclos de estudo são as barreiras económicas”, custo das propinas, transportes, custos de deslocação, materiais, etc.
Talvez o reforço das políticas de apoio aos estudantes e famílias fosse algo com impacto real. Vejamos.
Recordo o Relatório da OCDE, Education at a Glance 2015 que mostrava que os custos da frequência de ensino superior em Portugal suportados pelo universo privado, sobretudo as famílias, é o mais alto da União Europeia, 45.7%.
Também o Relatório "Sistemas Nacionais de Propinas e Sistemas de Apoio no Ensino Superior 2015-16", da rede Eurydice da União Europeia apenas Portugal e a Holanda cobram propinas a todos os alunos do ensino superior, sendo também Portugal um dos países com valores de propina mais altos. Já em 2011/2012 dados também da rede Eurydice mostravam que Portugal tinha o 10º valor mais alto de propinas na Europa, mas se se considerassem as excepções criadas em cada país, tem efectivamente o terceiro valor mais alto de propinas.
Finalmente uma referência a que no início de 2014 um estudo patrocinado pela Comissão Europeia em oito países da Europa revelava, sem surpresa, que Portugal apresenta uma das mais altas percentagens, 38%, de jovens que gostava de prosseguir estudos mas não tem meios para os pagar.
Neste quadro acho muito interessante e de forte impacto potencial o incentivo à mobilidade ferroviária.

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