domingo, 12 de fevereiro de 2017

O PERFIL DO ALUNO DO SÉCULO XXI

Foi ontem divulgado o resultado do trabalho do Grupo coordenado por Guilherme d’Oliveira Martins que definiu o perfil de competência que um aluno deve possuir no final da escolaridade obrigatória, o "Perfil do Aluno do Século XXI".
Não conheço ainda o trabalho para além do que se encontra na comunicação social.
O documento vai entrar em discussão pública pelo que mais adiante será possível uma leitura atenta que é, evidentemente, justificada.
São identificadas 10 áreas de competências a saber: linguagens e textos, informação e comunicação, relacionamento interpessoal, raciocínio e resolução de problemas; pensamento crítico e pensamento criativo; desenvolvimento pessoal e autonomia; bem-estar e saúde; sensibilidade estética e artística; saber técnico e tecnologias; consciência e domínio do corpo. Parece-me importante salientar a ideia de uma visão integrada e não hierarquizada das áreas de saber e a recuperação de uma visão de formação global. De facto, educar é mais que ensinar e aprender é mais do que dominar saberes instrumentais, por mais úteis que sejam.
São ainda definidos oito princípios estruturantes de que é salientada a ideia de flexibilidade.
As escolas poderão gerir dentro do seu quadro de autonomia, mais afirmado que real, parte do currículo e pretende-se aumentar o grau de diferenciação das abordagens curriculares, das metodologias e da integração de conteúdos.
É muito frequente no universo da educação que quando se fala de mudanças surjam inúmeras referências centradas no excesso de alterações o que retira estabilidade e pensamento a prazo a este universo.
Paradoxalmente, ou talvez não, existem outras tantas referências que afirmam a necessidade de mudanças.
A este cenário não será alheio um mundo de conflitualidade de interesses e visões em matéria de educação. Acresce ainda que as opiniões sobre o excesso de mudanças ou a sua necessidade são de uma percepção altamente dispersa, quase individualizada, em modo “cada cabeça, sua sentença”.
Relativamente às mudanças em matéria de currículo, ao seu anúncio correspondeu de imediato o habitual coro de “lá vem mudança”, “retorno do facilitismo”, etc. O outro coro afina pela necessidade de ajustamento, embora para ambas as posições seja ainda pouco claro o sentido, o alcance, o calendário ou o método da mudança.
É verdade que existiam opiniões que entendiam como ajustadas as opções actuais em matéria de currículo. No entanto, creio que muitos professores de diferentes áreas disciplinares consideram os currículos extensos, demasiado prescritivos e normativos, pouco amigáveis para as diferenças entre alunos e para o número de alunos habitual em algumas turmas que, com frequência, são as que integram alunos em situação mais vulnerável.
Não estando em causa, do meu ponto de vista, a definição de metas de aprendizagem, com esta ou outra designação, dificilmente 998 metas curriculares para os nove anos do ensino básico em Português ou 703 metas curriculares para Português e Matemática no 1º ciclo do básico, bem como o conteúdo de muitas destas metas, podem ser algo de muito positivo para o trabalho bem-sucedido de alunos e professores, antes pelo contrário.
Em que ficamos?
O que vai sendo conhecido parece ir ao encontro dos modelos curriculares de muitos países habitualmente considerados como possuindo sistemas educativos com qualidade reconhecida.
É verdade que mudar, só por mudar, é errado e tem consequências negativas a vários níveis.
Mas também é verdade que não mudar algo que não é positivo tem custos muito elevados, prolongados e com impacto negativo em diferentes dimensões.
Finalmente, creio que o impacto positivo de mudanças de natureza curricular não decorre “apenas” de questões centradas no currículo. Para além de questões como a avaliação, a organização dos ciclos e das áreas disciplinares, envolve, por exemplo, recursos docentes, turmas com efectivos adequados, apoios a alunos e professores em tempo oportuno, suficientes e competentes.
É nesta área que temo que se mantenham alguns obstáculos aos efeitos potencialmente positivos de uma orientação de mudanças necessárias em matéria de currículo.
Com melhor conhecimento do ‘Perfil dos Alunos para o Século XXI’ retomaremos esta questão.

1 comentário:

Unknown disse...



... gostava de ter lido algo mais consistente relativamente ao desenvolvimento moral e ético dos nossos jovens...

....a importância de trabalharmos e desenvolvermos junto dos nossos alunos a capacidade empática que é tantas vezes descurada...