segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

O PESO DA MOCHILA DOS MIÚDOS

Como alguns saberão está em curso uma petição no sentido de legislar sobre o peso excessivo das mochilas dos miúdos. Na verdade, nem tudo deveria carecer de ser legislado, o bom senso deveria bastar mas assim não é.
É geralmente aconselhado que o peso transportado não seja superior a 10% do peso da criança. Não sei se haverá algum estudo mais recente mas recordo um trabalho da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa de 2011, coordenado pelo Professor Mário Cordeiro e envolvendo umas centenas de alunos entre os seis e os 13 anos de uma escola de Lisboa que mostrava que sete em cada dez miúdos transportavam mochilas com excesso de peso, acima de 10% do seu peso corporal.
Como é óbvio esta preocupação, pelas suas implicações e riscos, imediatos e a prazo, para a saúde dos miúdos, deve merecer a atenção de pais e educadores no sentido de a minimizar, embora, por outro lado, o seu transporte configure um exercício físico que disfarça a ausência de espaços e equipamentos adequados em muitas das nossas escolas e combata uma infância sedentarizada, a troco, é certo, de uma coluna castigada.
Aproveitando a preocupação com o peso da mochila e, já agora, com a organização dos seus conteúdos, tarefa em que, felizmente, muitos pais se envolvem ajudando sobretudo os mais pequenos, gostava de chamar a atenção para um conteúdo que muitas vezes anda nas mochilas, que pode pesar muito e que, se não estivermos atentos, poderá passar despercebido.
Estou a referir-me aos medos que os muitos gaiatos transportam.
O medo de não ser capaz de aprender, o medo de não corresponder às expectativas, por vezes demasiado altas, dos pais, o medo das comparações com os outros, o medo das brincadeiras que adultos ansiosos lhes incutem, o medo induzido por discursos ligeiros sobre os riscos e perigos que espreitam por todo lado, o medo de circunstâncias e experiências de vida que não controlam e não compreendem. O medo de um futuro que não vislumbram. Entre outros.
Parece-me, por isso, que os adultos andarão bem se estiverem atentos ao que os miúdos carregam nas suas mochilas, para além e isso é importante, do peso dos inúmeros materiais. Muitas crianças e adolescentes sentem uma enorme dificuldade em lidar com os medos, sobretudo quando se sentem sós. Por vezes, acabam por se juntar a outros tão assustados quanto eles.
Quase nunca dá bom resultado.

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