segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

DO CARNAVAL

Para que conste e como declaração de interesses, o Carnaval nunca me entusiasmou o que justifica estas notas. Terão a generosidade de as desculpar. É certo que na adolescência constituía um excelente pretexto para os "assaltos" realizados nas garagens dos amigos, oportunidade quase única para muitos de nós namorarmos sem vigilância e com banda sonora (muitos slows, lembram-se?). Mas mesmo nessa altura o Carnaval não passava de um pretexto.
Hoje nem isso. As televisões esforçam-se por nos mostrar os patéticos desfiles de "escolas de samba" genuinamente portuguesas com umas sambistas resfriadas entre o frio do Fevereiro português e o biquini do verão brasileiro, as tristes figuras mascaradas que nos querem fazer acreditar no divertimento que mostram, a dificuldade sempre presente de separar o Carnaval na Política... da Política no Carnaval, a alegria triste de quem se desloca para assistir ao vivo a tudo isto e... depois volta à tristeza alegre do "ao menos que não nos falte saúde" e também as crianças senhores, que desfilam e saltam de contentes. Estas em dose dupla, pois já na sexta-feira antes do Carnaval as senhoras professoras e educadoras as tinham levado, com máscaras e disfarces sempre originais, a desfilar pelas ruas da sua vida acompanhadas, claro, pelo fotógrafo que tira as fotografias que aparecerão no Boletim Municipal sob o título "A Câmara Municipal como sempre no apoio às iniciativas das escolas".
Também é habitual e fica sempre bem na comunicação social aparecerem umas reportagens com certo ar de exotismo e preocupação etnográfica realizadas em algumas das nossas aldeias que ainda se mantêm abertas (até quando?) em que meia dúzia de resistentes parecem brincar com qualquer coisa a que certamente por vergonha nem chamam Carnaval, dizem Entrudo, é mais nosso.
Acabo por ficar triste com o Carnaval. E sinto-me mais triste porque muito deste Carnaval espelha, de facto, a nossa tristeza embora gostemos de nos considerar um povo alegre.
Bom. Depois começamos a pensar na Páscoa.

Sem comentários: