quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

ESCOLA A TEMPO INTEIRO OU EDUCAÇÃO A TEMPO INTEIRO

A propósito da intenção do ME de prolongar até ao 9º ano a designada Escola a Tempo Inteiro, o DN aborda a questão num trabalho ao qual dei uma pequena colaboração.
Sabemos como os estilos de vida actuais colocam graves problemas às famílias para assegurarem a guarda das crianças em horários não escolares. A resposta tem sido prolongar a estadia dos miúdos nas instituições escolares radicando no que considero um equívoco, o estabelecimento de uma visão de “Escola a tempo inteiro” em vez de “Educação a tempo inteiro”.
Ainda em termos prévios e como sempre tenho defendido seria também importante que se alterassem aspectos como a organização do trabalho, verificada em muitos países, que minimizassem as reais dificuldades das famílias recorrendo, por exemplo e quando possível, a tele-trabalho ou à diferenciação nos horários de trabalho que em alguns sectores e profissões é possível.
Acontece que de acordo com o que está definido legalmente a estadia das crianças e agora, provavelmente, dos adolescentes pode atingir mais de 50 horas semanais se os pais necessitarem, considerando horário curricular, AECs e componente de apoio à família.
É preciso o maior dos esforços, equipamentos e recursos humanos qualificados para que se não transforme a escola numa “overdose” asfixiante para muitos miúdos.
É verdade que existem boas práticas neste universo mas também todos conhecemos situações em que existe a dificuldade óbvia e esperada de encontrar recursos humanos com experiência e formação em trabalho não curricular. Acresce que boa parte das escolas, como é natural, têm os seus espaços estruturados sobretudo para salas de aula. Espaços para prática de actividades desportivas ou de ar livre, expressivas, biblioteca, auditórios, etc., etc., a existirem dificilmente poderão ser suficientes para uma ocupação da população escolar alternativa à sala de aula.
Este obstáculo acaba por resultar na réplica de actividades de natureza escolar com baixo ou nulo benefício e um risco a prazo de desmotivação, no mínimo.
Já aqui descrevi o horário de um grupo de 1º ano (crianças com 6 anos): trabalham com a professora da turma das 9h às 12 e das 13 e 15 às 15 e 15, todos os dias têm a seguir dois ou três tempos de 45 minutos até às 17 e 30 ou 18. Como será com os alunos do 3º ciclo cujos níveis de desenvolvimento e comportamentos são bem diferentes dos mais pequenos colocando novos e difíceis desafios?
Por outro lado, tanto quanto o tempo excessivo de estadia na escola, merece reflexão o risco e as implicações da natureza “disciplinarizada” desse trabalho, ou seja, organizado por tempos, de forma rígida próxima do currículo escolar.
A enorme latitude de práticas que se encontram actualmente, desde o muito bom ao muito mau, sustentam a inquietação a que acresce o modelo a definir para estruturar estas respostas, ou seja, sendo possível no quadro actual, que entidades externas as desenvolvam como assegurar a responsabilidade da escola e a sua autonomia?
Na verdade, embora compreendendo a necessidade da resposta seria desejável que, tanto quanto possível se minimizasse o risco de em vez de tentarmos estruturar um espaço que seja educativo a tempo inteiro com qualidade, preenchido na escola ou em espaços e equipamentos da comunidade, assistirmos à definição de uma pesada agenda de actividades que motiva situações de relação turbulenta e reactiva com a escola.
Sendo optimista vamos esperar que tudo corra bem, agora até ao final do ensino básico.

5 comentários:

Anónimo disse...

A ideia de "escola a tempo inteiro" é inenarrável.

A da "educação " a tempo inteiro também. Pela simples razão de não saber o que é a "educação " neste contexto.

Anónimo disse...

Na escola da minha sobrinha, as crianças têm aulas das 9h/17:30 3 dias por semana, 1 dia das 9h/15h e 1 dia das 9h/12:30. As outras horas são ocupadas com AEC. Uma barbaridade a escola a tempo inteiro!

Zé Morgado disse...

Educação a tempo inteiro é uma coisa "simples", a preocupação a TEMPO INTEIRO com a qualidade e o bem-estar na vida dos miúdos o que nem sempre se verifica a começar nas políticas educativas. Deste ponto de vista, Escola a Tempo Inteiro é um bom exemplo.

Rui Monteiro disse...

No meu tempo havia um conceito,uma ideia,uma asneira (certamente)chamada tempos livres!
Brincar, jogar à bola, nadar no rio...
Camaratas para as escolas,já!

Zé Morgado disse...

É isso.