segunda-feira, 26 de outubro de 2015

ECONOMIA E EDUCAÇÃO

Erik Hanushek veio de novo a Portugal. Lamentavelmente a agenda não me permitiu assistir embora também me parecesse ser fácil antecipar o que iria ouvir. De novo em relação em aparições anteriores a ideia do impacto positivo de eliminar 4% dos piores professores das escolas.
Como vêem a receita é simples, nem se percebe muito bem o que anda o resto da comunidade a fazer e a estudar. Analisa-se o resultado dos alunos em exames nacionais, muitos exames nacionais, registam-se os piores alunos e identificam-se os seus professores, fazem-se umas contas e corre-se com 4% desses incompetentes. Está feito, é ver os resultados a subir.
Na verdade já não há saco. É o discurso habitual do ECONOMISTA da educação, professores avaliados, responsabilizados e pagos diferenciadamente em função dos resultados dos seus alunos. O sábio minimiza o impacto dos factores culturais quando se analisam, por exemplo, os efectivos de turma em alguns países, o eterno exemplo dos países asiáticos, que obtêm bons resultados genéricos.
Como é evidente, melhores professores, obtêm melhores resultados na generalidade das circunstâncias. Como é evidente é imprescindível um dispositivo competente de avaliação dos professores, é uma ferramenta imprescindível à qualidade. Como é evidente é necessário outro tipo de olhar. Nesse sentido, algumas breves notas.
Hanushek, economista da educação, centra a sua análise em resultados e, do meu ponto de vista, desvaloriza ou esquece, dados de natureza processual ou contextual de que as mais recentes investigações em qualidade na educação sublinham a importância.
A título de exemplo e centrando-nos numa realidade que todos conhecemos, a portuguesa, é evidente que um professor de qualidade ou eficiente, seja lá isso o que for, lidará mais tranquila e eficazmente com uma turma de 28 alunos ou mais numa escola que sirva uma população qualificada do ponto de vista escolar, uma das varáveis mais associada ao desempenho dos alunos, do que uma turma com igual número mas constituída por alunos oriundos de famílias com menos qualificação académica, em contextos sociais desfavorecidos, com problemas sociais graves, realidade que, aliás, se espelha nos resultados escolares das escolas que servem de base aos rankings.
Eu sei que mesmo em contextos menos favoráveis os “bons” professores conseguem que os seus alunos obtenham melhores resultados do que os "maus" professores, mas é evidente que devem ser obrigatoriamente consideradas variáveis culturais e de contexto na discussão sobre o efectivo de turma, a definição do critério resultados dos alunos como base da avaliação dos professores ou da definição do seu salário. 
Quase que seria dispensável referir a diferença entre trabalhar com trinta alunos num estabelecimento privado de acesso condicionado ou o mesmo número de alunos num mega agrupamento de uma escola pública em que um professor lida com várias turmas, centenas de alunos ou se desloca entre escolas para trabalhar. Hanushek esquece ou desconhece, que a educação é mais do que economia, os estudos de "input-output" são curtos, importa considerar variáveis de processo e de contexto.
Um outro dado interessante de discutir quando consideramos os resultados escolares dos alunos como base para a avaliação e salário dos professores, será o trabalho educativo com crianças ou jovens com necessidades especiais. Nessa perspectiva, teríamos mais um bom motivo para os retirar das escolas, comprometem o rendimento dos professores pois os seus resultados escolares podem ressentir-se dos seus problemas, a mesma razão porque algumas alunos com falta de rendimento académico são "convidados" a sair de alguns estabelecimentos ou a não se submeter a exames para não comprometer a sua imagem e ranking. Outra realidade que Hanushek esquece ou desconhece.
Finalmente, sublinho um ponto essencial em que concordo em absoluto com Hanushek, o professor é o factor chave do sucesso na educação, tem-no dito embora o discurso me pareça contraditório. Por esta razão me refiro frequentemente à forma preocupante como a classe docente é tratada pelo MEC através de várias das dimensões da PEC - Política Educativa em Curso, por alguns "opinion makers" e também pelos próprios discursos de alguns dos seus "representantes", que me parece ser um péssimo contributo para a qualidade na educação.
Como antecipava a intervenção de Hanushek, tal como noutras ocasiões, legitima alguns dos aspectos da PEC, por exemplo, o aumento do número de alunos por turma. 
Não é grave, é a política, estúpido. Les beaux esprits se rencontrent.

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