quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

OUÇA UM BOM CONSELHO

"BES. Presente de 14 milhões a Salgado justificado com "espírito de entreajuda e solidariedade""
Ouça um bom conselho, que eu não posso dar de graça".  Não é assim mas devia ser assim a letra da canção de Chico Buarque de Holanda. Vejamos porquê.
"É um bom princípio geral de uma sociedade que quer ser uma comunidade, com espírito de entreajuda e solidariedade. De outro modo, ninguém estaria disponível para um conselho, uma recomendação, uma orientação a quem quer que fosse".
Esta pérola de elevado conteúdo moral consta do parecer de um catedrático de Direito da Universidade de Coimbra que entende como irrepreensível um presente de 14 milhões de euros que um rapaz, construtor civil, ofereceu a outro rapaz, Ricardo Salgado, o homem forte do BES. A atençãozinha, o miminho, destinava-se a agradecer  a sugestão de uns investimentos em Angola que se revelaram interessantes, por assim dizer, e constitui, evidentemente, um bom princípio geral.
Na verdade, os amigos são para as ocasiões e os agradecimentos são próprios de gente bem educada.
Também se compreende que mesmo entre amigos os conselhos não podem ser grátis, desvaloriza-os, aos conselhos e aos amigos. Os conselhos devem ter um preço, mesmo que simbólico como foi o caso, 14 milhões de euros que, aliás, iam passando ao lado dos impostos por distracção do Dr. Ricardo Salgado, homem com tantos afazeres que não pode perder tempo com ninharias.
Assim, meus caros amigos, ficais sabendo que tenho toda a disponibilidade para, dentro das minhas modestas competências, vos fazer chegar um conselho amigo, uma recomendação desinteressada, uma orientação certa, ficando, naturalmente, a aguardar que entendam que tendo a gentileza de retribuir com alguma lembrança, em numerário ou em géneros, mais não estarão a fazer do que dar sentido a uma comunidade com espírito de entreajuda e solidariedade, um exemplo de cidadania e ética.
Mais vos digo para que não se sintam embaraçados que não precisam de tanta generosidade como a do amigo do Dr. Ricardo Salgado, 14 milhões, e que toda a solidariedade e entreajuda que me dedicarem será declarada à administração fiscal.
Fico a aguardar, recordando que a aproximação da época natalícia sugere alguma urgência.

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