segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

OS REMADORES E OS TIMONEIROS

"Governo não cumpriu plano de reduzir dirigentes na administração central"
Houve um tempo em que as pessoas de diferentes terras decidiram realizar provas de canoagem. Cada canoa tinha onze tripulantes.
Depois de várias provas verificava-se que a canoa que representava aquela terra onde acontecem coisas ficava quase sempre em último lugar. Tentando perceber a razão de tão magros resultados os responsáveis daquela terra criaram um grupo de trabalho altamente qualficado e muito bem pago para analisar a questão e, naturalmente, propor soluções.
A profícua, demorada e cara análise do grupo de trabalho mostrou que, de uma forma geral, as canoas das outras terras tinham um timoneiro e dez remadores enquanto a canoa da terra onde acontecem coisas tinha um director-geral, dois assessores, dois subdirectores-gerais, dois directores de serviço, três chefes de divisão e um remador.
Ao constatar tal cenário, o grupo de trabalho logo viu a razão dos sucessivos maus resultados e promoveu as mudanças necessárias. Assim, a tripulação passou a contar com um director-geral, um assessor, dois subdirectores-gerais, dois directores de serviço, quatro chefes de divisão e procederam também à substituição do remador tendo enviado o outro para um processo de  requalificação e mobilidade.
Acontece que nas provas seguintes os resultados continuaram a ser péssimos e sentiu-se a necessidade de se tomarem, finalmente, medidas drásticas. Assim, a toda a tripulação foi atribuído um aumento de vencimento e um prémio de produtividade à excepção do remador que foi despedido com justa causa após um processo que evidenciou inaptidão funcional.
Serve esta história para comentar a notícia do I segundo a qual  o Governo anunciou em  Setembro de 2011 que teria reduzido em 1700 os cargos dirigentes na Administração Pública Central. Os dados mais actuais do Ministério das Finanças mostram que o corte não ultrapassa os 500 lugares de chefia.
Parece-me importante recordar um trabalho também do I de 201, segundo o qual a administração pública apresentava um rácio de 1 dirigente para 45 trabalhadores, existindo serviços em que a relação era de um para cinco. Aliás, nessa altura e segundo a proposta do Governo existiam autarquias que teriam de prescindir de mais de metade dos lugares de chefia existentes.
Na verdade, também no que respeita à administração local, apesar das boas práticas que também existem, todos reconhecemos, que a proliferação de “chefes” se constitui como uma forma de gerir interesses que não só a qualidade dos serviços prestados e o bem-estar dos munícipes, de todos os munícipes, é claro.
Por outro lado e como sabem, a flexibilização do despedimento dos "remadores" prosseguiu de forma "bem sucedida". Nas canoas da educação, por exemplo, de 2011 para cá saíram 30 000 remadores.

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