quarta-feira, 27 de agosto de 2014

PAIS ATENTOS. CRÓNICA DE UM SOL POENTE

Ser pai ou mãe para a esmagadora maioria das pessoas que passam por essa condição é, como sempre foi, uma experiência extraordinária ainda que, evidentemente, com alguns sobressaltos que por vezes se traduzem em inquietações.
Nos dias que correm, por várias razões, a parentalidade envolve algumas dimensões que não podemos deixar de considerar. Sem ser exaustivo temos as alterações profundas nos estilos de vida, nas condições económicas e enquadramento profissional, nas alterações de modelos culturais e sociais, nos níveis de qualificação médio das pessoas, etc.
Este conjunto de alterações repercute-se com nitidez de forma diferenciada nas famílias e nas acções dos pais.
No entanto, apesar desta complexidade e da diversidade de circunstâncias, continuo, como várias vezes tenho referido, a entender que uma condição essencial no "trabalho dos pais" é ser atento, atento aos filhos e ao que está à volta deles.
Lamentavelmente, também me parece, que estar atento, é o que mais difícil se torna de ensinar a qualquer pessoa, aos pais também, independentemente do seu grau de qualificação ou condição económica.
Deste entendimento resulta que, do meu ponto de vista, muitas das inquietações que sentimos com os filhos resultam, frequentemente, de alguma desatenção, que não será intencional, não será por incompetência mas ... acontece. Também acontece que uma atitude mais desatenta continuada acaba por produzir efeitos, primeiro mais "simples", os comportamentos dos miúdos para "chamar a atenção", como se costuma dizer e, posteriormente de formas mais "pesadas" e já de maior dificuldade. Felizmente, a maioria dos pais são, como se espera, pais atentos.
Vem tudo isto a propósito de uma pequeníssima história de ontem ao fim da tarde. Perto do sempre lindo pôr do Sol na Caparica passeávamos pelo "pontão" das praias.
Na nossa direcção caminhava ainda a tropeçar nos pés uma gaiata que teria entre os dois e os três anos. Um pouco mais atrás vinham elementos da família entre as quais, deu para perceber, a mãe que vinha ao telemóvel. Num tropeção maior a miúda acabou por cair num piso que não é nada amigável, gravilha e areia em cima de betão e o choro aflitivo foi imediato e fortíssimo.
A mãe, sem largar o telemóvel e a animada conversa, limitou-se a "içar" a gaiata do chão e a continuar a andar. Ao passar por mim ainda oiço a mão dizer para a miúda se calar pois não conseguia ouvir a pessoa com quem estava ao telefone. E lá continuou aquela família a passear tranquilamente à beira-mar ao pôr do Sol numa tarde lindíssima agora com banda sonora acrescentada, o choro da criança.
Não tenho nenhuma ideia de super-protecção dos miúdos, entendo que cair e levantar é uma aprendizagem, que a autonomia imprescindível ao crescimento saudável envolve algum risco que nos ensina os limites. Mas também entendo que os miúdos precisam de sentir ao seu lado alguém que "repare" e se interesse pelo que lhes acontece, que esteja "atento". Ser autónomo não é ser só, é ser mais capaz por si ... com os outros.

1 comentário:

Fatyly disse...

Realmente isso é uma constante e além de me dar a volta ao estômago refilo sempre e quase sempre interrompem ou desligam os malditos telemóveis.

Uma vez mais o meu obrigado pelos seus textos...para mim um aprendizado constante!

Um abraço