terça-feira, 1 de junho de 2010

CRESÇAM DEVAGARINHO

Durante a tarde de ontem ia a passar numa rua aqui perto e tive de parar pois uma carrinha de transporte de crianças recolhia um grupo de umas dez de um Jardim de Infância para proceder à entrega ao domicílio. Fiquei a ver a miudagem em fila a entrar para a carrinha e achei que iam felizes. Provavelmente, para além de se sentirem felizes, antecipavam que durante o dia de hoje vão ser o alvo das iniciativa e dos discursos conforme a agenda das consciências, Dia Mundial da Criança.
Naquele tempo de espera comecei a pensar no que esperará aquela gente pequena. No que andamos nós a fazer para os receber à medida que crescem.
Daqui a pouco tempo começam a ser intoxicados com escola, oito ou dez horas por dia, e começa o tempo em que acabou a brincadeira, é o tempo da escola "a sério".
Rapidamente começam a ser pressionados para a excelência, o mundo não é para gente sem sucesso. Vão ter que adquirir competências, muitas competências, em montes de coisas, porque é preciso ser bom em tudo.
Vão começar a perceber como anda confusa a cabeça dos adultos, como estamos sem perceber o nosso presente e com dificuldade de antecipar o futuro, que será o presente deles.
Vão, parte deles, desaprender de rir, de se sentir bem e de brincar, a coisa mais séria que sempre fizeram.
Vão ouvir cada vez mais frequentemente qualquer coisa como "não podes fazer isso, já és uma mulherzinha", como se as mulherzinhas e os homenzinhos já crescidos não fizessem asneiras.
Vão conhecer tempos em que se sentem sós e perdidos com um mundo demasiado grande pela frente.
Mais cedo ou mais tarde, alguns deles, vão sentir uma dor branda que faz parte do crescer mas que, às vezes, não passa com o crescer.
Também quero acreditar que alguns deles vão continuar a ser sentir-se bem, por dentro e para fora.
Antes que a carrinha se pusesse em andamento, ainda consegui chegar à porta e dizer-lhes, "Cresçam devagarinho, não tenham pressa".

1 comentário:

Nuvem disse...

Certo dia disseram-me: "Não crescas muito depressa. Há sempre algo bom que perde!"
Na altura não percebi o sentido da frase. Mas hoje, hoje faz-me todo o sentido...