segunda-feira, 22 de março de 2010

UMA HISTÓRIA EM CONTRA CORRENTE

Hoje dei por mim a olhar, com pouco tempo mas com preocupação, para o mundo que desfila à nossa frente e fiquei assustado. Bem me parecia que quando paramos para pensar, quase sempre, o resultado não é muito interessante. Mas de mansinho e, devo confessar, sem grande esforço, consegui começar a lembrar-me de algumas coisas em contra corrente com o desfile do mundo. Deixem que partilhe convosco, ao correr do teclado, algumas das minhas descobertas.
Afinal, sei de alguns miúdos que têm vidas tranquilas, são aconchegados pelos pais e têm os tratos que se espera que os pais dêem. Sei mesmo de alguns miúdos que falam com os pais e com outros adultos sobre aspectos que lhes parecem úteis ou necessários e reservam para os amigos e para si aquilo que assim deve ficar. Sei até de alguns miúdos que brincam na rua, tem resultados escolares positivos e também jogam com a PlaySation e computadores, vêm televisão sem se esconderem e ficar fechados num ecrã.
Imaginem que sei de miúdos que têm avós com quem se cruzam e "aprendem" aquilo que os pais não podem ensinar, porque pais e avós cumprem funções diferentes. Também sei de miúdos que crescem no meio dos outros e trocam uns nomes e uns sopapos que ajudam a perceber limites e diferenças sem que se pense que são delinquentes, feitos ou em construção. Sei até de miúdos que gostam de muitos dos professores que têm e que respeitam genericamente as regras de relação com eles.
Sei também de miúdos que nunca foram assaltados e outros que até já foram mas que crescem sem o receio de que cada vez que vão à rua mergulham num mundo que os irá atacar, embora estejam conscientes da prudência necessária.
Sei também de miúdos que fazem e dizem disparates e asneiras que precisam de fazer e dizer para não terem a tentação de mais a tarde as realizar, então com riscos para todos, e sei de pais e outra gente grande que acha que nem todos os miúdos que se mexem um pouco e falam muito são mal educados ou hiperactivos.
Afinal, descobri, em contra corrente, que existem miúdos que, não sabendo eu se são felizes porque não saberei muito bem o que será a felicidade, vivem uma vida na qual se sentem bem. Afinal, ainda não é desta que me convenço de que a nossa estrada desembocou num inferno. Os miúdos, agora falo de todos os miúdos, não deixam que acreditemos que a vida é um inferno. Se assim fosse, não teríamos outra coisa para lhes mostrar e deixar. E temos.

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