segunda-feira, 29 de março de 2010

A NEGAÇÃO DA REALIDADE

Creio que em bom rigor ninguém fica muito surpreendido com as revelações sobre casos de abuso de crianças no interior da Igreja Católica. Durante muito tempo a natureza das instituições, a cultura e valores instalados sobre a infância e os seus direitos, tornavam frequente a realização de abusos que não se confinavam, e confinam, a instituições da responsabilidade ou tuteladas pela Igreja. A menorização dos direitos dos miúdos "legitimavam" socialmente tais práticas, da mesma forma que legitimavam o trabalho infantil. Tal entendimento é patente quando se acede a depoimentos de pessoas vitimizadas que, regularmente utilizam expressões como "era normal", "era frequente". Aliás, este tipo de situações, estendiam-se a todos os países pelo que também Portugal terá, tem, episódios desta natureza, lembremo-nos do caso Casa Pia.
Dito isto e do meu ponto de vista o que fica mais surpreendente é a reacção da hierarquia da Igreja à divulgação das situações.
Desde a defesa da ideia de que se trata de um ataque ou conspiração, à desvalorização das situações, aos reconhecidos casos de cumplicidade e protecção, compra de silêncio através de indemnizações, temos tido de tudo, menos o reconhecimento da gravidade dos problemas e a tomada de medidas que reponham alguma justiça e a punição de responsáveis e cúmplices.
Talvez se lembrem da posição assumida pelo Bispo do Funchal aquando do julgamento do padre Frederico e sobre comprovados casos de abuso sobre jovens. O padre foi aliás condenado em tribunal pelo envolvimento na morte de um adolescente.
Esta posição, negação da realidade, é que me parece inaceitável, tornando algo hipócrita parte do discurso da igreja dirigido aos valores sociais em áreas como família, sexualidade e casamento.

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