segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O VENDEDOR DE CONVERSAS

O Homem veio viver para aquela terra. Nunca lá tinha passado e não conhecia muito sobre ela. Amigo de conversar começou a notar que as pessoas não eram assim muito interessadas em passar algum tempo a falar uns com os outros. De início pensou que se deveria ao facto de ser ainda um estranho mas foi percebendo que, mesmo entre as pessoas da terra, conversar não fazia muito parte dos seus hábitos. Por onde andasse conversa era coisa que não se encontrava.
Como sempre gostou e achava que era bom, imaginou que poderia tentar fazer alguma coisa para alterar a situação. A ausência de conversas poderia dever-se ao facto de não terem conversas para usar e, por isso, talvez pudesse fabricar conversas. Como sempre falou imenso, o Homem guardava na memória muitas conversas interessantes. Sabia que nos livros também se encontram muitas conversas pelo que procurava nos muitos que leu conversas que pudessem ser interessantes.
Começou então a juntá-las e por já serem muitas, organizava-as por assuntos, mais específicos ou mais gerais, por exemplo, pela natureza, mais séria ou mais divertida, e até pelas pessoas a quem se destinavam, mais miúdos, mais graúdos ou para gente de todas as idades. O Homem estava mesmo entusiasmado com a loja de conversas que ia abrir.
De repente, percebe a cara da sua mulher a olhá-lo com ar admirado, “Estavas a sonhar? Falavas imenso”. O Homem tinha acabado de despertar do seu sonho de vender conversas na terra das pessoas caladas.

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