segunda-feira, 14 de outubro de 2024

"TRANCADOS" NOS ECRÃS

A experiência diária e, como agora se diz, a evidência mostram de forma cada vez mais clara como o excesso de tempo que crianças e adolescentes (mas não só) passam “trancados” em ecrãs têm impacto negativo no seu bem-estar e saúde mental, no desenvolvimento de competências e capacidades cognitivas, sociais e emocionais e, naturalmente, na aprendizagem.

Em muitos sistemas educativos e também por cá, vão surgindo iniciativas, sobretudo nos espaços escolares, no sentido de minimizar esse tempo incluindo a redução da utilização dos recursos digitais na aprendizagem, sobretudo em particular com os mais pequenos.

Certamente mais difícil será a mudança nos contextos familiares e comunitários. O próprio comportamento dos adultos não parece favorável a esse trajecto de mudança.

Muitas vezes aqui tenho abordado esta questão tal como a abordei em muitas conversas com pais e encarregados de educação e é clara a dificuldade de mudança dos comportamentos, independentemente dos discursos de concordância com a preocupação ou a expressão de dificuldades.

Não sou apologista de estratégias essencialmente proibicionistas, mas sim do incremento de comportamentos de auto-regulação ajustados às diferentes idades.

No entanto, com alguma frequência se alimenta o equívoco de que não proibir significa a ausência de regras e limites.

Como tantas vezes digo, as regras e os limites são bens de primeira necessidade no bem-estar global e no desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes.

É o bem-estar dos mais novos e a qualidade global dos processos educativos que estão em jogo.

É uma questão demasiado importante.


1 comentário:

Rui Ferreira disse...

“Proibição: ato autêntico que protege a criança dos perigos, para ela ainda desconhecidos. (…) Não há nada pior para uma criança do que o facto de não ter limites. A ausência de limites assemelha-se a maus-tratos”
“a proibição, que não deve ser confundida com punição, é essencial na educação (não há educação sem proibição), na escola e na vida em sociedade”
Delaroche, P. (1996). Aprender a dizer não. (M. M. Laura, & J. M. Silva, Trads.) Paris: Éditions Albin Michel.

“As crianças e jovens têm uma percepção do risco diferente dos adultos, com tendência a minimizá-lo. O papel do adulto responsável será o de alertar sem estigma, o de criar proximidade sem receio de definir limites”.
Sampaio, D. (2009). Porque Sim. Editorial Caminho. Lisboa (2ª Edição).