quarta-feira, 11 de junho de 2025

VÁ LÁ, LÊ RÁPIDO

 Está em curso a realização da anunciada prova Diagnóstico da Fluência Leitora da responsabilidade do IAVE e destinada a medir a velocidade de leitura dos alunos do 2.º ano.

Estão a realizar-se em todas escolas do 1.º ciclo públicas e privadas em colaboração com a Rede Bibliotecas Escolares e Filinto Lima assegura, naturalmente, que as escolas estão preparadas. Como sabemos, as escolas estão preparadas para tudo.

Os alunos lerão um de dois textos em utilização durante um minuto e teremos um resultado que será devolvido às escolas no início do ano lectivo e, lá está, as escolas estarão preparadas para desenvolver a intervenção e as estratégias adequadas aos alunos que conduzam as letras do papel para a linguagem a uma velocidade mais lenta.

Costumo dizer que no fim de quase cinco décadas a trabalhar no mundo da educação, mais os anos de estudante, poucas coisas me surpreendem, mas senhores, uma prova de velocidade da leitura?!!!

É óbvia a importância e o impacto da leitura no conjunto das aprendizagens, como também são preocupantee os indicadores relativos às competências de leitura em diferentes dispositivos de avaliação externa.

No entanto, avaliar a competência de leitura apenas com uma prova de rapidez de leitura de palavras é pouco e esquece dimensões essenciais como compreensão e prosódia.

Quantas vezes, apesar de sermos leitores competentes e experientes precisamos de diminuir o ritmo de leitura para tornar mais sólida a compreensão do que estamos a ler. Por outro lado, a experiência diz-nos que ler mais devagar pode prejudicar num teste de velocidade e não significar menor competência de leitura.

Quem acompanha o escrevo e afirmo, sabe que os dispositivos de avaliação na sua diferente tipologia, formativa, sumativa, diagnóstica, interna ou externa, são ferramentas imprescindíveis a processos educativos de qualidade.

Dito isto, também entendo que medir muitas vezes a febre não faz com que ela baixe ainda que necessitemos de saber se existe febre e tratá-la, esta sim a grande questão, como melhorar os resultados e com que recursos.

Insisto, a qualidade promove-se, é certo, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens, naturalmente, mas também com a avaliação do trabalho dos professores, com a definição de currículos e metodologias adequadas, com a estruturação de dispositivos de apoio a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados de organização e funcionamento das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc.,

Como escrevi na altura do anúncio da realização desta prova, gostava que não lessem este texto de forma demasiado rápida para que possa ficar mais claro o que pretendi reflectir.

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