segunda-feira, 16 de junho de 2025

OS TRATOS DOS VELHOS

 Ontem o calendário das consciências assinalou o Dia Internacional de Sensibilização para a Prevenção da Violência Contra as Pessoas Idosas. 

Foi divulgado o estudo realizado pela APAV, “Estatísticas APAV | Pessoas idosas vítimas de crime e violência 2021-2024”, e os indicadores, lamentavelmente, são preocupantes.

A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima disponibilizou apoio a 136 idosos por mês, 5 por dia, totalizando 6523 em quatro anos. As situações de apoio envolvem violência de diferente tipologia, psicológica, física, sexual, financeira, negligência ou abandono.

Diferenciando, 9462 sofreram violência doméstica, 78.2%, 468 foram alvo de ameaça ou coacção, 3.9%, 388 de difamação ou injúria 3.2%, 386 de ofensas à integridade física, 3.2%, 227 de burla, 1.9% e 1175 foram vítimas de outros crimes e formas de violência, 9,6%.

É um cenário inquietante.

Quer no seio das famílias, quer em instituições para onde alguns velhos são enviados compulsivamente como tem sido denunciado pela APAV, algumas encerradas por determinação legal, tal é a gravidade das situações, multiplicam-se as referências à forma inaceitável como os velhos estão a ser tratados.

Começam por ser desconsiderados pelo sistema de segurança social que com pensões miseráveis, transforma os velhos em pobres, dependentes e envolvidos numa luta diária pela sobrevivência.

Continua com um sistema de saúde que deixa muitos milhares de velhos dependentes de medicação e apoio sem médico de família.

Em muitas circunstâncias, as famílias, seja pelos valores, seja pelas suas próprias dificuldades ou alterações nos estilos de vida, não se constituem como um porto de abrigo, sendo parte significativa do problema e não da solução. As situações muito complicadas em que milhares de famílias estão envolvidas com o retornar de várias gerações à mesma casa e a tentação de aproveitar os baixos rendimentos dos velhos potenciam o risco de maus tratos.

Finalmente, as instituições, muitas delas, subordinam-se ao lucro e escudam-se numa insuficiente fiscalização além de que, com frequência, os equipamentos de qualidade são inacessíveis aos rendimentos de boa parte dos nossos velhos.

Lamentavelmente, boa parte dos velhos, sofreu para chegar a velho e sofre a velhice.

Não é um fim bonito para nenhuma narrativa, entende o velho que escreve estas letras.

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