No Expresso encontra-se um trabalho que merece leitura e reflexão. Nas últimas décadas e de forma cada vez mais acentuada tem vindo a subir a incidência de miopia afectando desde logo os mais novos.
Os estudos realizados apontam
para que este trajecto possa estar associado aos estilos de vida actuais, pouco
tempo passado com luz natural que também está relacionado com a entrada cada
vez mais cedo das crianças em instituições educativas, assim como se tem
verificado o aumento do tempo de permanência diário. Também se verifica uma
relação causal associando o aumento da incidência da miopia a um tempo
excessivo de exposição a ecrãs, matéria que aqui tenho abordado frequentemente.
Sabemos como os estilos e modelos
da vida actual, a organização do trabalho, colocam graves dificuldades às
famílias para assegurarem a guarda das crianças em horários não escolares ou “obrigarem”
a que desde muito cedo as crianças frequentem creches e jardins de infância.
A resposta tem sido prolongar a
estadia dos miúdos nas instituições escolares alimentando o que considero um
dos vários equívocos no universo da educação, a afirmação de uma visão de
“Escola a Tempo Inteiro” em vez de “Educação a Tempo Inteiro”. O modelo é bem
recebido por muitos pais e tolerado por muitos outros por falta de
alternativas. No entanto e tal como o faço desde 2006, algumas notas a pensar,
sobretudo, nos miúdos e nas respostas e no que se lê no Expresso sobre alguns
efeitos.
Para além da reflexão sobre o que
acontece nesse tempo de permanência na escola e tal como se verifica noutros
países, seria imperioso que se alterassem aspectos como a organização do
trabalho, também já com algum caminho feito noutras geografias, que
minimizassem as reais dificuldades das famílias recorrendo, por exemplo e
quando possível, a teletrabalho ou à diferenciação nos horários de trabalho que
em alguns sectores e profissões é possível.
É preciso um esforço enorme,
equipamentos e recursos humanos suficientes e qualificados para que não se
corra o risco de transformar a escola numa “overdose” pouco amigável para
muitos miúdos em várias dimensões do seu bem-estar. As dúvidas relativamente a
esta questão são muitas.
É verdade que existem boas
práticas neste universo, mas também todos conhecemos situações em que existe a
dificuldade óbvia e esperada de encontrar recursos humanos com experiência e
formação em trabalho não curricular. Acresce que boa parte das escolas, como é
natural, têm os seus espaços estruturados (e por vezes saturados) sobretudo
para salas de aula. Espaços para prática de actividades desportivas ou de ar
livre, expressivas, biblioteca, auditórios, etc., etc., a existirem,
dificilmente poderão ser suficientes para uma ocupação da população escolar
alternativa à sala de aula.
A verdade é que, no nosso caso, vivemos
num país em que o clima é amigável para actividades no exterior, mas num país de
crianças e adolescentes sedentarizados, com horas sem fim trancados em ecrãs ou
envolvidos em passeios familiares pelos corredores fresquinhos ou quentinhos
conforme a estação, dos grandes centros comerciais.
Não tem de ser assim. O bem-estar
e a saúde de toda a gente agradeceriam a mudança.
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