O excelente texto, como sempre, de Gonçalo M. Tavares no último Expresso, "Crónica sobre o tempo", a propósito do 1 de Janeiro e o cada recomeço que pontua, recordou-me uma pequena história.
Era uma vez um homem que, como quase todas as pessoas, quando se aproximava o fim do ano estabelecia planos para tentar mudar na sua vida os aspectos que menos o satisfaziam. É claro que estas mudanças seriam tentadas a partir do dia primeiro do ano que vinha novo. Nos seus planos de mudança, tanto cabiam as decisões de maior envergadura e dificuldade, procurar mudar de emprego por exemplo, andava desmotivado, achava-se subaproveitado e mal pago, como também cabiam aspectos de outra natureza como não responder (quase) sempre friamente à mulher, falar mais com os miúdos, cuidar melhor de si, ser mais simpático com os colegas, etc.
O problema é que durante os anos,
todos os anos, as promessas mantinham-se, eram basicamente as mesmas e as
mudanças ficavam por cumprir, todas.
O mal-estar do homem avolumava-se
num ciclo crescente, mais promessas, ausência de mudanças, mais frustração e a
situação tornou-se insustentável. Um dia, perto do fim do ano, tomou a grande
decisão, acabaram-se as promessas, deixou de dar corda ao relógio, o tempo
parou, o Ano Novo não chegou e o homem adormeceu.
Ainda não acordou.
E já estamos a 7 de Janeiro.
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