sexta-feira, 3 de novembro de 2023

DOS PERCURSOS DE SUCESSO

 A Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência divulgou dados relativamente ao percurso dos alunos dos cursos científico-humanísticos e dos cursos profissionais ao longo dos últimos anos.

Alguns dados. Em 21/22, 79% dos alunos completaram o secundário nos três anos face a 55% verificado em 14/15 um salto de 24%. Também nos cursos profissionais se registou uma subida, 70% concluíram o curso no tempo esperado, mais 17% que em 14/15. No Norte e Centro “chumba-se” menos registando-se taxas de sucesso de 85% e 82% respectivamente.

Nos cursos profissionais também se verificaram subidas das taxas de sucesso, maiores no Norte e Área Metropolitana de Lisboa com 2% e uma região estagnada, o Alentejo.

Regista-se também uma ligeira melhoria nas taxas de abandono embora seja ainda significativo nos cursos profissionais, 10%. Sem surpresa, o nível de sucesso é superior nos alunos que chegam sem retenções ao secundário assim como os alunos que não são abrangidos Acção Social Escolar evidenciam percursos de sucesso com desempenho mais elevado.

Mais uma vez fico embaraçado com os dados disponibilizados pela DGEEC assentes nas avaliações internas.

Seria suposto ficar satisfeito com a evolução verificada, mas as incongruências entre as avaliações internas e os dados das avaliações externas suscitam dúvidas nessa satisfação e a situação verifica-se logo durante o básico, como recentemente foi verificado considerandos dados das avaliações internas, provas de aferição e estudos do IAVE.

No que diz respeito ao secundário, diminuiu o número de exames finais, apenas se realizando para acesso ao superior. Acresce que mesmo nos exames que se realizam temos sempre a incontornável discussão da dificuldade dos exames.

Este cenário mina a confiança no sistema educativo.

Considerando como indicador os percursos de sucesso, concluir o ciclo no tempo esperado, coloca-se a questão que já aqui tenho abordado. Poderemos interpretar a transição de ano como sucesso na aprendizagem de competências e conhecimentos ou teremos de considerar que ter sucesso é a “a passagem de ano” na velha fórmula de “transita, mas não progride”?

De facto, como referi, é clara a incongruência entre avaliações internas e externas que constituem uma ferramenta imprescindível de regulação do sistema e que deveriam merecer toda a confiança. Já aqui tenho abordado a questão a propósito de resultados de outros anos escolares.

Importa sublinhar com muita clareza que levantar esta questão não significa a defesa da retenção como ferramenta de sucesso e qualidade. Não é, sabemos que o “chumbo”, só por si, não gera sucesso e qualidade. Nenhuma dúvida sobre isto.

E volto a insistir. A qualidade promove-se, é certo e deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens e com regulação externa, sim, naturalmente, mas também com a avaliação justa e competente do trabalho dos professores e das escolas, com a definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento desburocratizado das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc.

É o que acontece, genericamente, nos países com mais baixas taxas de retenção escolar e que significam conhecimentos e competências adquiridas.

É o que ainda não conseguimos fazer acontecer de forma consistente, generalizada e sustentada em Portugal, apesar da imensidade de projectos, iniciativas, inovação, actividades que, demasiadas vezes chegam do exterior às escolas, podem ser interessantes … mas não são mágicos, por mais que num exercício de "wishful thinking" os queiramos entender e vender como tal.

Não será este o caminho.

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