terça-feira, 3 de março de 2020

SAÚDE MENTAL E ESCOLA


Há uns dias encontrei no JN uma peça interessante referindo o envolvimento das escolas secundárias de Arouca e Escariz no Projecto WhySchool que tem por objectivo a promoção da saúde mental em contexto escolar através da formação de professores, pais e assistentes operacionais neste âmbito.
A saúde mental de crianças e adolescentes é uma área crítica nas nossas comunidades. Há algum tempo Cristina Marques e Miguel Xavier, Pedopsiquiatra, assessora do Programa Nacional para a Saúde Mental e Psiquiatra, director do Programa Nacional para a Saúde Mental em texto no Público, “Saúde mental infantil – uma quase indiferença de décadas” referiam que a “OMS estima que 20% das crianças e adolescentes apresentam pelo menos uma perturbação mental antes de atingir os 18 anos e que, mesmo em países desenvolvidos, apenas 1/3 das crianças com problemas significativos recebem tratamento”.
Recordo dados do European School Survey Project on Alcohol and Other Drugs de 2016 sugerem que 13% os jovens portugueses até aos 16 anos consome antidepressivos e tranquilizantes. O estudo envolveu 96043 jovens de 35 países, 3456 portugueses alunos de escolas públicas. O valor é impressionante, a média do estudo é de 8%.
Uma nota referindo ainda um trabalho divulgado em 2015 da Faculdade de Psicologia e Educação da Universidade de Coimbra em colaboração com entidades estrangeiras apontando para que 8% por cento dos adolescentes portugueses que frequentam o 8.º e o 9 º ano apresentam sintomatologia depressiva e 19% estarão em risco de desenvolver a doença. O estudo contemplava também um programa de prevenção a promover em meio escolar, com a participação dos pais, que pareceu indiciar bons resultados.
Neste quadro, todas as iniciativas que promovam ao bem-estar de crianças e jovens são importantes. Por outro lado, considerando o tempo de estadia dos mais novos nos contextos escolares é natural que as suas dificuldades ou necessidades de diferente natureza emergem na escola, é lá que estão, mas julgo ser necessária prudência. Uma escola que é percebida como resposta para todas as questões que possam afectar os seus alunos pode fazer correr o risco de perder de vista a essência da educação escolar criando um padrão de atribuição de “competências” que a educação escolar não vai ter capacidade para responder
Também sabemos que se a escola for uma comunidade educativa, a escola é amigável para a saúde mental das crianças e adolescentes, como também é amigável para o desempenho académico, para a saúde cívica, para a saúde física, para … o bem-estar global e desenvolvimento, aliás, é amigável para todos os que nela desempenhem algum tipo de funções, incluindo, evidentemente, os professores. No entanto, a aproximação das questões da saúde mental à educação escolar estabelecida há muito pelo Mestre João dos Santos não é o mesmo que entender a escola como uma comunidade terapêutica.
Parece-me que temos sobretudo de insistir na qualidade do trabalho e nos recursos de apoio a alunos e professores para uma escola pública de qualidade e na existência suficiente e competente de apoios na comunidade, para crianças, adolescentes e família.

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