quinta-feira, 25 de outubro de 2018

MEDIAÇÃO ESCOLAR


Desde 2007, a Associação Empresários pela Inclusão Social - EPIS tem em desenvolvimento em algumas dezenas de escolas do país um programa de combate ao abandono escolar e de promoção do sucesso que tem atingido resultados positivos. Nos últimos dois anos lectivos, o sucesso dos alunos apoiados no 2.º e 3.º ciclo atingiu os 86%, mais 7,4 pontos percentuais do que em 2016. No 1.º ciclo, o aproveitamento dos alunos apoiados atingiu os 98,7%. Estes resultados positivos sustentaram o desenvolvimento do programa noutros países da Europa.
A intervenção assenta na criação de equipas de mediadores que promovem ou reconstroem, através de metodologias diferenciadas, uma relação mais positiva com o contexto escolar por parte de alunos em risco significativo de abandono e insucesso e também das suas famílias. 
A EPIS intervém este ano lectivo em 44 concelhos do continente, envolvendo 258 escolas com 156 técnicos a acompanhar cerca de oito mil alunos. A imprensa de hoje divulga a extensão da intervenção ao ensino secundário e à educação pré-escolar.
Este modelo, a utilização de mediadores na relação de alunos em dificuldade e as suas famílias com a escola, também tem sido utilizado em projectos com resultados positivos desenvolvidos pelos Gabinetes de Apoio ao Aluno e à Família, estruturas criadas em algumas escolas no âmbito da acção do Instituto de Apoio à Criança.
É também por isto que o Programa Tutorial que está em desenvolvimento por parte do ME é, potencialmente, um dispositivo interessante conforme já tenho afirmado e as boas práticas nacionais e internacionais vêm confirmando apesar de alguns dificuldades que já aqui referi.
A questão é que exigem recursos nem sempre disponíveis em quantidade e adequação ou têm o suporte de estruturas exteriores à escola como é o caso da EPIS ou do IAC, não que seja negativo mas porque não chega a todas escolas e o Programa Tutorial é manifestamente insuficiente.
A existência de figuras de mediação em contexto escolar, que transcende a função fundamental, subvalorizada e subaproveitada do meu ponto de vista, do Director de Turma, com o recurso a metodologias diferenciadas de trabalho com alunos, professores e famílias é, reconhecidamente, um contributo muito importante para a qualidade dos processos educativos e do trabalho de alunos e professores, diminuindo riscos de insucesso e abandono.
Nesta perspectiva levanta-se uma questão que me parece importante. Por um lado, a EPIS é uma associação de empresários que no âmbito da responsabilidade social e mecenato apoiam o desenvolvimento destas actividades em escolas públicas e o IAC é também uma estrutura exterior à escola.
Muitos dos professores que têm sido “forçados” a abandonar o sistema por diferentes razões e circunstãncias poderiam com relativa facilidade e formação desenvolver nas escolas o trabalho de mediação, por exemplo, que estruturas e meios, muitas vezes exteriores à escola vêm realizar, sendo que assim se abrangeriam as escolas públicas, todas as que necessitassem, não apenas as "privilegiadas" que acedem aos projectos da EPIS ou do IAC com critérios certamente ponderados mas que deixarão de fora comunidades com dificuldades.
A questão é que medidas desta natureza implicam a defesa de uma escola pública para todos, com os recursos suficientes e competentes para apoio a alunos, professores e famílias.

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