Em 2016/2017 foi lançado o
programa Apoio Tutorial Específico em substituição de um indefensável percurso
precoce conhecido por "cursos vocacionais" e também destinado a alunos com pelo
menos duas retenções.
Foi conhecida a avaliação realizada
pela Inspecção-Geral da Educação e Ciência ao primeiro ano de funcionamento. Em síntese, 77.4,% dos alunos
abrangidos registou progressos moderados ou fortes no comportamento, 67.4% também
evidenciou progressos moderados a fortes na assiduidade e 58.2% registou
progressos nos resultados escolares. Interessantes também os dados relativos ao grau de satisfação dos alunos. No entanto, 40.7% dos
alunos mostrou progressos fracos ou muito fracos.
Algumas notas face a resultados
que não surpreendem, sejam os mais positivos sejam os menos positivos.
Em primeiro lugar e até pelos
resultados positivos importa sublinhar algo que as boas práticas já
existentes em muitas escolas e os estudos nacionais e internacionais sustentam,
os programas de natureza tutorial são ferramentas sólidas e eficazes para
acomodar e responder a dificuldades de alunos e professores nos processos de
ensino e aprendizagem.
De há muito que defendo
dispositivos desta natureza até como forma de gerir de forma adequada os
recurso docentes já integrados no sistema e que manifestamente podem ser
utilizados em programas de tutoria ou coadjuvação. Aliás, é também interessante
o recurso a alunos para programas de tutoria com vantagens recíprocas, para
tutores e para tutorandos.
No entanto e talvez ajude a
perceber alguns dos resultados menos positivos, o Programa de Tutoria em
desenvolvimento, da forma como está desenhado, quatro horas semanais por
professor tutor para 10 alunos e considerando o perfil de intervenção definido
e que julgo adequado, tem evidentes constrangimentos. No entanto, também já
estamos habituados a que o empenho, competência e profissionalismo da
generalidade dos professores minimizem insuficiências que ninguém estranhará.
Recordemos as funções atribuídas.
a) Reunir nas horas atribuídas
com os alunos que acompanha;
b) Acompanhar e apoiar o processo
educativo de cada aluno do grupo tutorial;
c) Facilitar a integração do
aluno na turma e na escola;
d) Apoiar o aluno no processo de
aprendizagem, nomeadamente na criação de hábitos de estudo e de rotinas de
trabalho;
e) Proporcionar ao aluno uma
orientação educativa adequada a nível pessoal, escolar e profissional, de
acordo com as aptidões, necessidades e interesses que manifeste;
f) Promover um ambiente de
aprendizagem que permita o desenvolvimento de competências pessoais e sociais;
g) Envolver a família no processo
educativo do aluno;
h) Reunir com os docentes do
conselho de turma para analisar as dificuldades e os planos de trabalho destes
alunos
Quem conhece a realidade das
escolas e as problemáticas complexas dos alunos em insucesso, com desmotivação,
desregulação de comportamento, ausência de projecto de vida, falta de
enquadramento e suporte familiar, lacunas graves nos conhecimentos escolares de
anos anteriores, etc., quase sempre presentes e só para referir dimensões
relativas aos alunos, percebe a dificuldade de reverter, para usar um termo em
voga, o seu trajecto escolar.
À luz do que me parece ser um
trajecto de defesa da efectiva autonomia das escolas, preferia que, dando o ME
orientação e a possibilidade de gerir e alocar recursos a estes programas, que
fossem as escolas a organizar os seus programas de tutoria, definindo
destinatários, professores e técnicos envolvidos, tempos de realização e
objectivos a atingir.
Caberia, evidentemente, às
escolas e ao ME a regulação e acompanhamento dos programas e a sua avaliação.
Sabemos, é uma referência comum,
a existência de “constrangimentos” que pesam nos recursos disponíveis.
No entanto, mais uma vez e não
esquecendo a necessidade de combater desperdício e ineficácia, é bom recordar
que a qualidade da educação e a promoção do sucesso para todos os alunos não
representam despesa, são investimento.
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