domingo, 13 de agosto de 2017

O ENSINO DOMÉSTICO - a minha mãe é a minha professora e o meu mundo

O JN de ontem trazia um trabalho sobre o ensino doméstico, encarado como um percurso educativo alternativo à frequência da escola.
Esta opção por parte de algumas famílias radica numa recusa ou reserva das famílias relativamente aos conteúdos curriculares centralizados e massificados gerados pela escolaridade obrigatória e universal, entendimento que também se associa por vezes a convicções religiosas e também a uma apreciação negativa dos ambientes escolares e dos seus eventuais impactos nas crianças e adolescentes.
Não discuto a legitimidade das opções familiares embora se saiba que em alguns países não é permitida, sei também das experiências positivas que alguém terá sempre para contar mas em termos de princípio tenho algumas reservas sobre este processo e algumas das suas implicações. Uma análise profunda não cabe neste espaço embora me pareça que, por um lado, é uma opção a que poucas famílias podem aceder por razões óbvias e por outro, os muitos problemas e de diferente natureza que a escolarização coloca se devem minimizar, melhorando, para todos, insisto para todos, a qualidade dos processos.
No entanto e de forma breve, uma referência não exaustiva a questões que se podem colocar, a densidade e natureza da rede social experienciada pelas crianças e adolescentes, a diversidade de actividades, o desempenho e contacto com diferentes papéis e diferentes contextos, a autonomia, os “limites” na acção didáctica (não educativa) dos pais que leva à necessidade de “orientadores” também conhecidos por “explicadores”.
Acresce ainda que se pode discutir o tempo para esta opção. Na peça do JN a Professora Inês, Peceguina, do Movimento Educação Livre fala na possibilidade de que o ingresso na escola possa vir a ser apenas no ensino superior. E porque não continuar também o ensino doméstico durante a formação superior? 
O que me faz reflectir, e inquieta, é o que parece significar este tipo de opções. Senão vejam.
Não se desloque às livrarias - encomende via net;
Não se desloque para comprar discos – encomende via net;
Não vá ao cinema – compre o DVD ou veja nos canais disponíveis em casa;
Não vá a concertos – veja o DVD, o YouTube e todas as outras opções.
Compre casa num condomínio fechado com espaço de convívio!!, e campo de jogos, piscina, etc.
Não se desloque às compras – encomende via net;
Não vá ao banco – tem o homebanking;
Não saia para trabalhar – está aí o tele-trabalho;
Não saia para estudar – tem e-learning:
Não saia para conversa e convívio – tem a conversa na net, aliás com várias opções;
Não saia para … - a televisão traz.
Se a gente não sai… que caminho é o nosso? Vamos juntos ou vamos fechados?

3 comentários:

its-m-i-n-e disse...

O ensino doméstico nao é necessariamente fechado. Há famílias que decidem pelo ensino doméstico e aproveitam para dar a volta ao mundo :)

baú das artes e letras disse...

Sou professora do 2º Ciclo, duma escola pública de Lisboa e adorei o texto.

M disse...

Vamos juntos. Só se aprende a socializar, socializando.