quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

ELA SABE O QUE É UM MELRO!

Deixem-me partilhar uma micro-história que uma Mãe trouxe cá para casa.
A Filha é uma adolescente, com um diagnóstico de atraso cognitivo que frequenta uma escola inclusiva, dizem.
A Mãe foi buscar a filha à escola e quando iam a sair a filha exclama “Olha um melro, é da Primavera”.
Perto estavam duas auxiliares e uma delas afirmou para que Mãe e Filha ouvissem, “Olha! Sabe o que é um melro! Não é tão parva como a gente pensa”.
Na verdade, as pessoas, mais pequenas ou maiores não são tão parvas como a gente pensa.
Muitas vezes tenho afirmado que o conjunto de convicções e expectativas que estão presentes na comunidade educativa influenciam o trabalho desenvolvido com estes alunos ao ponto desse próprio trabalho ser um factor de debilização, ou seja, alimenta a sua incapacidade.
Tal facto, não decorre da incompetência genérica dos técnicos, julgo que na sua maioria serão empenhados e competentes, mas da sua própria representação sobre este grupo de alunos, isto é, não acreditam que eles realizem ou aprendam. Desta representação resultam situações e contextos de aprendizagem, tarefas e materiais de aprendizagem, expectativas baixas traduzidas na definição de objectivos pouco relevantes, que, obviamente, não conseguem potenciar mudanças significativas o que acaba por fechar o círculo, eles não são, de facto, capazes. É um fenómeno de há muito estudado.
O que acontece, sem ser por magia ou mistério, é que quando nós acreditamos que os miúdos são capazes, eles não se "normalizam" evidentemente, mas são, na verdade, mais capazes, vão mais longe do que admitimos. Não esqueço a gravidade de algumas situações mas, ainda assim, do meu ponto de vista, o princípio é o mesmo, se acreditarmos que eles progridem e são capazes de ... , o que fazemos, provoca progresso, o progresso possível.
E isto envolve professores do ensino regular, de educação especial, técnicos e pais.

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