domingo, 13 de abril de 2014

A SALVÍFICA PROLETARIZAÇÃO E EMPOBRECIMENTO

"Trabalhadores a receber salário mínimo triplicam nos últimos seis anos"

É difícil entender a persistência numa estratégia de empobrecimento como salvação para as dificuldades num país em que mais de dois milhões de pessoas estão em risco de pobreza e privação. Este é o resultado de uma persistência cega e surda no “custe o que custar", no cumprimento dos objectivos do negócio com a troika e dos objectivos de uma política "over troika", atingindo claramente o limite do suportável e afectando gravemente as condições de vida de milhões. Estamos a falar de pessoas, não de políticas, ou melhor estamos a falar do efeito das políticas na vida das pessoas. E estamos no “bom caminho”? O país está melhor? E as pessoas, pá?
Num cenário com níveis de desemprego ainda devastadores, atingindo todas as camadas etárias mas sobretudo os mais novos e os mais velhos, com desequilíbrios fortíssimos entre oferta e procura em diferentes sectores, uma legislação laboral progressivamente favorável à precariedade e insensibilidade social e ética de quem decide, não é estranha a proletarização do mercado de trabalho mesmo em áreas especializadas ou mesmo o recurso a uma forma de exploração selvagem com uma maquilhagem de "estágio" sem qualquer remuneração a não ser a esperança de vir a merecer um emprego pelo qual se luta abdicando até da dignidade. Lembram-se certamente das intervenções de António Borges e outros falcões defendendo o abaixamento dos salários e os discursos que nos mostravam o empobrecimento como a salvação. Estamos a caminho.
Na verdade, boa parte dos vencimentos em empregos mais recentes, mesmo com gente qualificada, não são um vencimento, são um subsídio de sobrevivência. É justamente a luta pela sobrevivência que deixa muita gente, sobretudo jovens sem subsídio de desemprego e à entrada no mundo do trabalho sem margem negocial, altamente fragilizada e vulnerável, que entre o nada e a migalha "escolhe amigavelmente" a "migalha", ou mesmo uma remota hipótese de um emprego no fim de um período de indigno trabalho gratuito. Como é evidente, esta dramática situação vai-se alargando de mansinho e numa espécie de tsunami vai esmagando novos grupos sociais e famílias.
É um desastre. Grave e dramático é que as pessoas são "obrigadas" a aceitar. Os mercados sabem disso, as pessoas são activos descartáveis.
Ter como preocupação quase exclusiva o abaixamento dos custos do trabalho através do aumento da carga horária, da precariedade e do abaixamento de salários não será a forma mais eficaz de combater o desemprego, promover desenvolvimento e criação de riqueza. Parece razoavelmente claro que a proletarização da economia e o empobrecimento das famílias não poderá ser a base para o desenvolvimento.

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