quarta-feira, 25 de setembro de 2013

QUANDO O PARTO CORRE BEM, ATÉ EM CASA CORRE BEM, MAS ...

No Público trata-se uma questão que me parece importante e suscita alguma reflexão, os partos em casa. Embora a opção possa ser aceite em termos de legitimidade de decisão dos pais, creio que a experiência e o conhecimento disponível sugerem fortes reservas.
Conforme dados conhecidos hoje, quase duplicou o número de partos realizados em casa no espaço de uma década, de 480 em 2000 para perto de 900 em 2008.
Este aumento surpreende e preocupa, desde logo porque a mortalidade infantil em partos domésticos é reconhecidamente superior relativamente aos partos em instituições, estas "modas" como lhes chama Ana Jorge são geradoras de risco elevado.
Na verdade, podemos dizer que, quando corre bem, até em casa corre bem, a questão coloca-se, quando surgem complicações que em casa não têm condições de ser respondidas.
É verdade que os partos hospitalares, sobretudo nas instituições de saúde privadas, constituem, por assim dizer, um nicho de mercado com um recurso desproporcionado a intervenção especializada, citemos como exemplo, o número extremamente elevado de cesarianas para as quais, certamente, não existirão indicações clínicas como várias estudos e comparações com a realidade de outros países sugerem.
Também é verdade, que mesmo em situação hospitalar poderemos ter riscos ou falta de qualidade na resposta mas do ponto de vista dos bebés e também das mães, esses risco estarão evidentemente mais controlados.
Há alguns meses uma reportagem televisiva, relatava dois casos de famílias que levantaram processos a especialistas de enfermagem obstétrica que realizaram partos em casa com resultados muito complicados.
Dadas as questões corporativas envolvidas, não é estranha a divergência de posições entre a Ordem dos Enfermeiros e a Ordem dos Médicos para quem o parto em casa é um retrocesso em matéria de cuidados de saúde e prevenção, posição que me parece bem mais ajustada.
Volto à afirmação, "quando corre bem, até em casa corre bem", regulamente existem histórias com final feliz de crianças que nascem, por exemplo, nas ambulâncias, mas o problema é quando corre mal. Sei por experiência familiar, que se não fosse a qualidade da resposta da Maternidade Alfredo da Costa, que agora está ameaçada, se aquele parto ocorrido há trinta e poucos anos fosse em casa, provavelmente teríamos vivido uma experiência dramática.
Finalmente, parece-me importante que se retome a experiência natural do parto, sem os excessos da "sofisticação médica" ou, obscuros interesses comerciais, mas partos em casa, cuidado, os pais poderão sofrer mas a conta é da criança.

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