domingo, 8 de dezembro de 2013

A AVÓ QUE NÃO SABIA DE LETRAS

Um dia destes estive numa conversa com um grupo de pais em que, como frequentemente acontece, estavam algumas Avós.
A certa altura a conversa girava em torno do que se passa em casa, do ficar com os gaiatos enquanto os pais trabalham, dos trabalhos da escola e das dificuldades que muitos pais sentem, quer por razões de funcionalidade, quer porque assumem dificuldade ou desconhecimento sobre as matérias escolares, na ajuda aos filhos.
Uma das Avós presentes pede para intervir e explica que não sabe ler, na aldeia dela poucas raparigas foram à escola, mas que ajudou muito os dois netos que tem, eles ficavam com ela quando saíam da escola. E ajudou-os bem, disse a Avó, os dois estudaram bem. Acrescentou ainda que até os ajudava nos trabalhos de casa. Uma senhora que estava ao seu lado não resistiu a comentar como é que Avó ajudava os netos nas coisas da escola se não sabia ler.
Com o ar que eu acho que ela teria quando ajudava os netos, a Avó explicou à senhora que ainda só era Mãe Primeira, como sabem, ser Avó é ser Mãe Segunda, que os miúdos não precisam só das letras, precisam de aprender muitas coisas que os professores e também os pais não sabem ou não podem ensinar, era isso que ela fazia, ao que parece, bem.
É por questões deste tipo que já aqui me tenho referido ao papel que os mais velhos, muitos deles sós, poderiam desempenhar junto dos mais novos. Creio que seria bom, para uns e outros, e bem melhor que parte do trabalho que se faz em muitos lugares ao abrigo de ideias como Actividades de Enriquecimento, de várias naturezas e designações, desenvolvidas em diferentes que, em algumas circunstâncias, se tornam mais Actividades de Empobrecimento da vontade de saber e de gostar da escola para alguns gaiatos.

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